quinta-feira, 17 de julho de 2008

Os Últimos Homens Livres?

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Este post faz parte da blogagem coletiva em comemoração do "Dia de Proteção às Florestas" promovida pelo "Faça a Sua Parte".

Falar sobre a preservação da floresta parece um assunto simples : todos estão de acordo que ela deve ser preservada e que disto depende o futuro da vida no planeta. No entanto sabemos que ela continua a ser dizimada por uma série de razões, e confesso que não tenho competência para escrever a respeito, pois não não consigo entender todas as facetas desta situação complexa que leva à esta destruição, principalmente da floresta amazônica.

PhotobucketPorisso vou falar sobre um programa sobre a floresta amazônica que vi há algumas semanas na televisão francesa, que fez um sucesso enorme por aqui. Ele tocou no assunto do desmatamento, suas causas (segundo eles, uma das principais é o plantio de soja para alimentar o gado) e conseqüências, apresentou uma parte espetacular na qual o apresentador nadava ao do lado de uma jibóia e de um golfinho cor de rosa . Mas o ponto alto foi sem dúvida a visita aos índios Zo'é, que eles chamaram de "Os últimos homens livres", que se constituem em uma das últimas tribos "intactas", ainda não "contaminadas" pelo homem branco. E é sobre este aspecto que vou abordar a preservação da floresta, o tipo de interação que os povos indígenas mantem com ela e as lições que eles nos dariam a este respeito.

PhotobucketEstima-se que em 1500, na época da descoberta do Brasil, existiam de 2 a 4 milhões de índios. Atualmente, segundo os dados da Funai eles seriam em torno de 340000 distribuídos em milhares de aldeias, em 600 terras indígenas, situadas de norte a sul do país. A constituição de 1988 garante a eles o direito à terra na qual vivem, das quais aproximadamente 70% estaria demarcada (dados daqui).

PhotobucketOs Zo'é habitam uma faixa de terra firme, cortada por pequenos igarapés afluentes de dois grandes rios, o Cuminapanema e o Erepecuru, no município de Oriximiná, norte do Pará. Trata-se de uma região montanhosa de grandes castanhais, que apresenta maximização dos recursos de subsistência. Além da mandioca, que corresponde a cerca de 90% da área plantada da roça, a castanha-do-pará é o produto mais consumido pelos índios, que utilizam também a casca e a entrecasca para confeccionar a maioria de seus artefatos. O território ocupado pelos índios é entrecortado por pequenos igarapés, onde realizam pescarias com timbó. A relativa escassez de recursos faunísticos nessa zona de ocupação resulta do longo tempo de permanência das aldeias e, portanto, do esgotamento da caça (texto daqui).

Photobucket"Devido às difíceis condições de acesso e à inexistência de programas estaduais ou federais de desenvolvimento na região norte do Pará, a área continua relativamente preservada; no entanto, pequenos grupos garimpeiros se implantaram nas margens dos rios que limitam a área: Erepecuru (onde existem várias pistas de pouso) e Curuá. Até o momento, a Área Indígena Cuminapanema/Urukuriana continua apenas "interditada". Uma situação jurídica precária: sua "identificação" começou em 1997, dando-se início ao longo processo de reconhecimento fundiário que garantirá aos Zo'é exclusividade na ocupação e exploração de suas terras." (texto daqui)

PhotobucketNeste programa de televisão o que chocava era o contraste cultural : diante do "homem civilizado" que chegava de avião os índios que vivem na Idade da Pedra (no sentido literal e não no pejorativo). Polígamos e poliandros, nus (para os nossos padrões, para eles estavam bem vestidos pois portavam seus adereços), sem chefes nem feiticeiros, vivendo sem noção de propriedade, a terra é um bem coletivo, e deve ser usada para a caça, a pesca, a coleta e a agricultura, retirando da floresta somente o necessário para sua sobrevivência. Neste confronto podia se avaliar o caminho que percorreu a humanidade nestes milênios, mas em que direção? O comentário do apresentador,(e dos expectadores que viram o programa e deixaram seus comentários no site da emissora), comparando aquela aldeia indígena ao paraíso, fornece uma pista no sentido de se refletir sobre se tomamos o caminho certo. Claro que são divagações, ninguém deseja voltar à Idade da Pedra, mas em relação ao desenvolvimento sustentável talvez pudéssemos aprender muito observando a relação deles com a floresta.

PhotobucketMas a grande questão é se estes índios devem ser conservados em isolamento, o que é a política atual da FUNAI ou se deve possibilitar um contato entre eles, os outros índios e a civilização? Parece que a aproximação que houve entre eles e um grupo de missionários (que queria catequizá-los e obrigá-los a se vestir...) foi desastroso, houve muitas mortes pois eles contrairam a malária e mesmo gripes, que é fatal para quem não tem imunidade. E eles, agora que "comeram o fruto proibido", entrando em contacto com o "homem branco", sera que não vão querer se aproximar deste outro mundo, perdendo assim sua cultura? Este é um dos aspectos do imenso e vital puzzle que envolve a floresta amazônica.

Pois preservar a floresta passa pela preservação de sua flora, de sua fauna, e de seus habitantes, que dependem exclusivamente dela para sobreviver. E o Brasil deve adotar uma política de firmeza em relação à Amazônia, pois a comunidade internacional está atenta a ela e suas riquezas, e acho que não é apenas porque ela é o pulmão do mundo...






Vídeos com trechos do programa da televisão francesa :


Cap sur l'Amazonie, les derniers hommes libres
Cap sur l'Amazonie, rencontre avec un anaconda
Cap sur l'Amazonie, danse avec un dauphin rose
Cap sur Amazonie, à la découverte de la faune




Alto da Página

19 comentários:

Anônimo disse...

Muito boa e séria esta postagem. Conheço a amazonia e seus índios. Posso dizer que você abordou com muita competencia esta tema polêmico!

Parabéns pela postagem sonora, também!

Abçs

Anônimo disse...

Guta, como sempre vc, pauta pela seriedade e qualidade dos textos, provavelmente a melhor postagem sobre o tema e dia...Abraços

Francine Esqueda disse...

Quanto cuidado e capricho... É muito agradavel passear por aqui!
Inspirador...
Beijos

Anônimo disse...

Augusta, com certeza o interesse na Amazônia não é puramente ambiental. A ganância humana por 'tesouros' materiais acaba por destruir o maior de todos eles, a vida.
Adorei a postagem.
beijo, menina

Anônimo disse...

Maria Augusta. Acho extremamente complexo esse tema. A princípio, não tenho base, nem fundamento para opinar sobre a preservação da mata, incluindo a flora e a fauna, sem prejudicar o ser humano, que, nesse caso, é o índio no seu estágio mais natural.
Sou contra a aculturação dos índios. Penso que eles deveriam permanecer em seu habitat, sem interferência de civilizados. Por outro lado, eles ficam indefesos, diante dos exploradores e poluidores.
Sempre que assisto a esses programas sobre a preservação da Amazônia, detenho-me nessas dúvidas e busco esclarecimentos mais profundos. Acho que me entendeu...
Vou ler mais e me informar mais.
Seus posts sempre me levam a mais pesquisas...Porque são instigantes.
Eu amei essa postagem!
Beijo você!
Dora

Cecilia Alfaya disse...

Também fiz o meu post!!! foi muito legal esta iniciativa de blogagem coletiva!!

Anônimo disse...

Querida, faz tempo que não passo por aqui para ler seus (sempre interessantes) posts. É muito rico particpar das blogagens coletivas, pois além da iniciativa, podemos ver o mesmo assunto de vários prismas diferentes... adorei ler seu artigo, com abordagem tão diferenciada e relevante. Obrigada e um bjo brasileiro chegando aí na França pra você!

Ví Leardi disse...

Maria Augusta acabo de perder um coment�rio enorme que fiz sobre esta tua, at� agora a meu ver, melhor postagem de todas as que vi...
Vou resumir....Vi todods os filmes fascinada pelos indios, suas habilidades e afazeres, suas cestas de folha de palmeira ,sua fibra vegetal que vira sabonete ..os botos cor de rosa que mais parecem gente,os pirarucus com seus quase 8 metros e caudas em forma de leque quase pr� hist�ricas, os bichos pregui�a nadando ...quem diria ,s�o ta� lentos em terra..um verdadeiro para�so na terra....Espero que o homem realize a tempo que esta destrui�o do nosso eco sistema � a heran�a que deixam para as gera�es futuras ...t�o complexo esta assunto de Amaz�nia..aonde os interesses financeiros falam t�o alto... maravilhoso o teu texto e o teu alerta...Mil parab�ns por mais esta aula de civilidade .
Um grande beijo.
P.S Vou tentar achar mais no you tube sobre a reportagem ...vamos ver se tenho sorte ..gostaria muito de ver tudo!!!

Maria Augusta disse...

Eduardo, é realmente uma situação muito complexa esta da Amazônia. Pensei neste programa de televisão porque fiquei encantada com o que vi nele, assim como todos que o viram, só se falava nisto no dia seguinte.
Abraços.

Betho, obrigada por tuas palavras sempre tão gentis.
Abraços.

Francine, volte quando quiser, é sempre um prazer receber tua visita.
Abraços.

Denise, a ganância e o imediatismo humanos estão atrás de tudo na história. Mas chegamos a uma situação que é preciso saber que isto não é "sustentável" e pode acabar com o planeta.
Um beijo.

Maria Augusta disse...

Dora, a preservação da floresta é uma proteção para os índios, pois estes dependem dela para sobreviver, mas retirando da floresta somente o necessário, logo estão em equilíbrio com ela e não a destroem. Também são contra a aculturação dos índios, mas parece que eles tem curiosidade em conhecer o mundo "civilizado", o isolamento não deve ser imposto. Como você disse, é complicado. Beijos e obrigada por suas palavras.

Ciça, vou visitá-la durante o fim de semana, obrigada por participar desta coletiva do Faça.
Um abraço.

Luciana, há quanto tempo mesmo, como estou longe me faltam dados para analisar o problema complexo da Amazônia, que bom que você gostou deste enfoque. Um beijo.

Ví, realmente este programa é genial, temos tanto a aprender com eles, não é mesmo? Fico contente por você ter assistido às seqüências, são curtas mas valem a pena. Acho que ele ainda não está no You Tube, é recente, foi divulgado aqui dia 2 de julho. Se souber que ele foi editado no You Tube ou como DVD te aviso, tá? Te agradeço por tuas palavras.
Beijos.

Isabel Filipe disse...

bem interessante e importante a tua postagem ...


há que sempre preservar a natureza ...

beijinhos e bom fim de semana

Ramosforest.Environment disse...

As florestas estão inseridas em um contexto maior ambiental que compreende o homem, os demais seres vivos, os recursos naturais e os recursos criados.
Faz-se necessário conscientização e políticas públicas eficientes.
Discutir o tema é sempre oportuno.

Eu postei sobre agricultura familiar e florestas.

Anônimo disse...

Obrigado por divulgar o MISTER LINK. Quanto mais gente conhecer, mais fácil será trabalhar com ele!
Hoje já estou usando na blogagem coletiva POlÌTICA contra a CENSURA na INTERNET, no Drops Azul Aniss!


Abçs e bom fim de semana!

Maria Augusta disse...

Isabel, obrigada pela visita e bom fim de semana para você também.
Beijos.

Ramosforest, é um problema muito complexo este das florestas em geral, e não só no Brasil.
Um abraço.

Eduardo, este MisterLink é mesmo um achado, vale a pena divulgá-lo assim como a próxima coletiva contra a censura na Internet.

Unknown disse...

Maria Augusta, vc levanta uma questão muito interessante, a da preservação da cultura indígena amazônica.

Meio off-topic, mas colateral a isso: outro dia fui no museu da língua portuguesa, aqui em Sampa, e aprendi que há uma língua "amazonense" (esqueci o nome) que é falada por poucos milhares de pessoas e q é oficial - o estado do Amazonas seria um estado bilíngue, portanto. Será q o índio não tem direito a ir a escola e aprender sua língua, a língua do Brasil e a língua dos vizinhos? Um direito, que aliás, nós temos: o de aprendermos quantas línguas quisermos. Será q ele tbm não pode fazer essa escolha?

Às vezes me pergunto se a política da FUNAI do isolamento total é realemnte eficiente...

(Viagens na maionese de sábado à tarde, desculpa.)

:)

Maria Augusta disse...

Lucia, entendo teu ponto de vista, eu também sempre pensei que a educação é a solução para tudo...no nosso "universo". O deles é bem diferente, eles não conhecem nem a noção de "possuir algo", que é o motor de quase todos os conflitos que temos em nossa sociedade. Porisso acho uma pena aculturá-los, não tenho estatísticas, mas parece que isto não deu certo com outras tribos.
No entanto, acho que eles devem ter direito à escolha. Se desejarem se aproximar dos outros índios e/ou ingressar no nosso "sistema" não se deve forçá-los ao isolamento.
O assunto é muito complexo...
Beijo grande e um bom domingo.

sonia a. mascaro disse...

Que beleza de post, Maria Augusta! Como sempre seus posts são uma importante referência e você publica assuntos da maior relevância. Você diz bem que preservar a floresta passa pela preservação de seus habitantes, da flora, fauna e de todos os recursos naturais!

Gostei muito do vídeo e dos sons belíssimos da floresta!

Um ótimo domingo!
Bjs.

Maria Augusta disse...

Sonia, estes problemas das florestas é muito complexo, e os índios fazem parte dele, porisso achei interessante falar sobre eles.
Um beijão e uma boa semana para você.

Anônimo disse...

hola, Chicos, Esto fue muy interesante. Me encantó la lectura