sábado, 29 de setembro de 2007

As Plantas que Limpam o Planeta


Thalspi caerulescens - fonte da foto

No Dia Mundial da Terra assumi um compromisso com o Movimento "
Faça a Sua Parte" em relação à uma ação individual colaborando no combate ao problema climático que enfrenta nosso planeta. Nesta ocasião, prometi divulgar projetos encontrados na imprensa científica internacional relativos a este assunto. Este post é uma colaboração neste sentido.


É primavera! Observem estas lindas florzinhas que parecem que foram colocadas lá para o prazer de nosso olhos. Mas elas não são apenas agradáveis ao olhar, elas também podem cumprir uma outra tarefa na natureza : limpar os solos e as águas da poluição por metais pesados, provenientes das indústrias. Seu nome é Thalaspi caerulescens , da família Brassicaceae, e ela é um dos principais focos das pesquisas sobre a fitoremediação, que tem como objetivo o uso das plantas para degradar, remover ou estabilizar substâncias tóxicas do solo ou das águas contaminadas.


E ela não é a única, existem várias plantas chamadas hiperacumuladoras, i.e, que podem estocar metais dos quais elas não necessitam para seu desenvolvimento (ou que os metabolizam para espécies menos nocivas) que podem realizar esta faxina na natureza. Pois, se estes metais pesados poluidores não forem retirados ou impedidos de migrar, eles vão se acumular nos vegetais comestíveis ou contaminar o lençol freático, acarretando problemas como dermatite alérgica, perfurações do septo nasal, câncers, cefaléia, náuseas e desmaios nos seres humanos. E não é apenas a contaminação por os metais pesados que podem ser tratada por esta técnica, os solos e águas contaminados por herbicidas ou derivados do petróleo também.



Em seguida, os metais contidos nas plantas podem ser extraídos da biomassa, os metais armazenados podem ser recuperados por empresas de fitomineração e o ciclo estará fechado. Este processo é mais barato que os métodos convencionais, que necessitam retirar a terra poluída e transportá-la para um local de tratamento ou depósito.

O problema é que estas plantas só podem recuperar uma baixa concentração destes poluentes. E é aí que entra o estudo efetuado na Universidade de Liège, por exemplo, no qual se estuda o genoma destas plantas para descobrir quais são os genes responsáveis por estas propriedades. Uma vez conhecidos, estes serão então inoculados em plantas como o fumo ou o álamo, que apresentam um crescimento mais rápido ou uma capacidade mais elevada de captação destes poluentes. O "hic" em relação ao meio ambiente é a utilização de transgênicos...mas os cientistas que desenvolvem estas pesquisas tranqüilizam o público afirmando que estes podem ser esterilizados, eliminando assim o risco de propagação.

A fitoremediação já é uma realidade. Nos EUA, a mostarda indiana transgênica, por exemplo, foi usada para tratar solos contendo arsênico na Califórnia. No Canadá, o chumbo, o cobre e o zinco foram retirados do solo graças a 3 espécies : o salgueiro, a mostarda indiana e a festuca (gramínea para pastagens). A Universidade da Georgia desenvolve algodoeiros transgênicos para limpar solos contaminados com mercúrio. As plantas já estão sendo testadas em um terreno da cidade de Danbury, no Estado norte-americano de Connecticut, de onde 60 algodoeiros irão retirar o mercúrio depositado por uma antiga fábrica de chapéus.


No Brasil, várias equipes de pesquisas já se debruçam sobre este processo, em escala de laboratório. Por exemplo, um tipo de samambaia é estudado para a fitoextração de arsênio e o feijão de corda é usado para a recuperação de solos contendo herbicidas. O chorão para a recuperação de águas contendo derivados de petroleo; mamona, girassol, pimenta da Amazônia e tabaco para o tratamento de solos contendo cádmio, chumbo, cobre, zinco e níquel.

Embora esta técnica apresenta limitações tais como um tempo de descontaminação longo, ela é economicamente viável e uma excelente utilização de recursos naturais. Resta esperar que seja levada a sério, ultrapasse a escala de laboratório e chegue aos nossos campos.


Alguns Estudos no Brasil :

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Presente de Luz

A blogosfera não cessa de me surpreender. Pois vejam o presente que ganhei. A Luma fez este gouache baseando-se simplesmente no texto do post Lendo e Escrevendo, ela não me conhece pessoalmente nem nunca viu uma foto minha. E no entanto, ao ver a imagem me "reconheci", contemplando a paisagem e deixando a mente viajar na velocidade do TGV cruzando os campos franceses.

Isto só confirma a grande sensibilidade que conhecemos nela e nos faz descobrir que ela é também uma artista plástica de enorme talento. Obrigada, Luma, de coração.

Gouache -
Luz de Luma

terça-feira, 25 de setembro de 2007

O Livro sobre a Praça 2007


Fotomontagem : escritora do salão dando autógrafos
Este fim de semana de setembro teve muito movimento aqui em Nancy, tendo como tema o livro. Pois é, livro é coisa séria aqui na França, a "entrada literária" é um acontecimento e dentro de algumas semanas teremos a entrega dos prêmios importantes como o Goncourt, Femina e outros. E aqui em Nancy, acontece o primeiro grande salão do ano, "O Livro sobre a Praça", onde os escritores da França inteira querem ser vistos e entrar em contato com o público para apresentar seus lançamentos. O presidente desta edição era Yves Coppens, o arqueólogo que encontrou Lucy, um hominídeo de 3,5 milhões de anos. Além dele, estavam presentes também várias outras personalidades da política, do cinema, da ciência e da televisão.

Mas aqui em casa, o acontecimento era outro, para nós bem mais importante : o 12° aniversário de casamento no domingo dia 23. Para comemorá-lo, fomos almoçar no restaurante mais simpático da maravilhosa Praça Stanislas. E valeu a pena, apesar de ter pedido um prato frugal pois estive adoentada na semana passada e não estava com muito apetite , a sobremesa foi deliciosa : “Chaud-froid aux mirabelles avec son sorbet aux pain d’épices” (quente-frio de mirabelles com sorvete de pão de especiarias”). Hum, delicioso! E o inesperado de nossa comemoração ficou por conta dos vizinhos no restaurante...devido ao “O Livro sobre a Praça” , nas outras mesas se viam todos aqueles medalhões que a gente vê na televisão, parecia que estávamos num palco, me segurei para não sair pedindo autógrafos (rs).

Depois do almoço fomos dar uma volta no local do evento, quer dizer eu entrei e meu marido ficou me esperando lá fora, ele não gosta de empurra-empurra. Até que não tinha tanto, dava para se aproximar das mesas onde os autores falavam sobre seus livros, o que às vezes é impossível, quando está lotado demais. Mas o pior mesmo é quando não tem ninguém, o que já me aconteceu uma vez que cheguei muito cedo... a gente começa a folhear um livro por pura curiosidade, como só tem você ali, o autor se aproxima para te explicar entusiasticamente a história e como ele a escreveu, e depois... se você não gostou ou não pretende comprar o livro, vai saindo com o maior sorriso amarelo. Tem gente que não liga, mas eu acho chato!

O que comprei desta vez? Alguns livros artísticos, no Museu de Belas Artes, que aproveitando o evento estava “queimando” livros, catálogos e affiches. Quanto ao salão em geral, foi um sucesso retumbante, pois este ano bateu o recorde de vendas de livros de toda a sua existência. Pois é, felizmente parece que os livros ainda tem muito futuro pela frente...


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sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Lendo e Escrevendo



Hoje, o post é dedicado à blogosfera! Primeiro, gostaria de agradecer todo o carinho que este blog tem recebido nestes 6 meses de existência, com tantas pessoas maravilhosas que nos visitam e que nos enriquecem com seus comentários.

Em seguida, falar em interação com a blogosfera é também falar de mêmes. E hoje aqui, vou responder ao que me foi proposto pela querida Meire : Como escrevo.

Como escrevo : Gosto de escrever primeiro sobre o papel, em seguida passo para o computador, acho que assim as idéias fluem mais naturalmente. Depois faço correções e enxugo um pouco o texto, tenho tendência a escrever demais. Um outro problema são os acentos, como o teclado francês só tem acento agudo para o e, para as outras vogais, tenho de passar para o teclado brasileiro no Windows, e acentuá-la. Uma ginástica!

Porque escrevo : Primeiro acho que é porque preciso...falo pouco, então minha forma de expressão preferida é a escrita. Em seguida, é para exercitar meu português, pois como falo uma outra língua 24 horas, tenho medo de perder a capacidade de escrever no meu idioma. ...Mas depois que comecei a blogar, escrevo principalmente para me comunicar com as visitas que recebo aqui, o que me traz uma satisfação imensa.

Sobre o que escrevo : Sobre tudo e sobre nada, o que vejo, o que sinto, o que vivo. Mas aqui no "Jardin" só deixo entrar as coisas boas (na medida do possível), é o meu jardim encantado.

Onde escrevo : em qualquer lugar, vejo muitas pessoas lendo nos trens por exemplo...eu escrevo, preencho páginas e páginas nem sempre aproveitáveis.

Como sempre, não solicito nominalmente a alguém sua continuação, mas para aqueles que desejarem escrever sobre este assunto, me avisem que colocarei um link aqui com o maior prazer.



Um outro même que me foi passado pelo Mário foi "Os 5 últimos livros que li". Já havia respondido a este même aqui, mas como li outros livros recentemente, vou atualizá-lo. Aí vão :

- A Nuvem Mensageira - Kalidasa - um clássico da literatura sânscrita, descreve o percurso poético de uma nuvem que leva uma mensagem de um apaixonado afastado de sua amada (post aqui)

- Enfim juntos - Anna Gavalda - quatro pessoas completamente diferentes unidas pelas circunstâncias, se ajudam mutuamente numa linda história de amor e de amizade (post aqui)

- A Peste e a Orgia - Giuliano da Empoli - o mundo inteiro estaria adotando um comportamento "brasileiro" onde o medo e o "carnaval" caminham juntos. Reflete a imagem do Brasil sob o ponto de vista europeu. Toca nos pontos sensíveis de nossa sociedade, onde os fatos são reais, mas as causas que ele apresenta são discutíveis (post aqui).

- A Probabilidade de uma Ilha - Michel Houllebecq - os males da vida moderna como as seitas, o racismo, a clonagem e seus resultados sobre as futuras gerações. Cínico e polêmico, não leia se estiver deprimido.

- A Viagem de Théo - Cathérine Clément - um garoto doente percorre o mundo buscando se curar em contato com as diferentes religiões, traçando um paralelo singelo entre elas. Terno e instrutivo.

Quem quiser escrever sobre este outro même, fique à vontade e me avise para que eu coloque um link.

Continuando com nossa jornada pela blogosfera, vamos falar dos awards que os amigos me fizeram a gentileza de oferecer.


A Sandra, do magnífico blog cultural "Isso é Bossa Nova" e o Oscar, do "By Oscar Luiz", cuja simpatia e convivialidade na blogosfera dispensam comentários, nos presentearam com o award "Bons Momentos Virtuais". Agradeço de coração, e indico os blogs seguintes para este prêmio :


O amigo Eduardo, do blog artístico que já é uma referência na blogosfera "Varal de Idéias" nos presenteou com o award "Schmooze" que incentiva a interação entre blogs. Muito obrigada por mais esta lembrança, e entre tantos outros merecedores deste prêmio, indico os seguintes :

A Vida como a Vida Quer
Alvarenga Sempre
Flavia Sereia
Lino Resende
O Meu Jeito de Ser

Claro que recomendo fortemente todos os indicados, assim como todos os blogs que se encontram na sidebar, os quais sempre visito com grande prazer e que gostaria de lê-los todos os dias, o que nem sempre é possível.

Mais uma vez agradeço a todos que me ofereceram os awards e aos que me dão o prêmio de passar neste "Jardin Ephémère" para fazer uma visita.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

A Noite do Patrimônio 2007



Na França inteira, no mês de setembro acontecem as Jornadas do Patrimônio durante um fim de semana. Neste dia, monumentos, parques, empresas, públicos e particulares, abrem suas portas gratuitamente ao público. Imaginem que em Paris o presidente Sarkozy em pessoa recebeu os primeiros visitantes do dia que foram conhecer o Palácio do Eliseu, sede da presidência da república. Aqui no interior, numa proporção mais modesta acontece a mesma coisa, todo mundo sai para conhecer lugares que abrem especialmente para este dia e os transportes públicos são gratuitos para facilitar o trânsito.

A parte mais interessante a meu ver é a "Noite do Patrimônio" no sábado. Trata-se de circuitos nas ruas de um bairro, nos quais há paradas e nestas conferencistas ou artistas explicam ou mostram algo relacionado com o lugar, pode ter uma relação com a história da família que mora ali, ou com a arquitetura, ou são artesãos mostrando como eles trabalham. Ao mesmo tempo artistas se apresentam, cantanto, ou contando piadas, ou fazendo números de circo. Cada ano um bairro diferente é selecionado, em geral a prefeitura dá velinhas para que os habitantes coloquem nas janelas, uma iluminação especial nos imóveis que vão ser destacados e guias para informar as pessoas sobre os eventos.

Muito xereta, sábado passado, lá fui eu, com minha amiga Aline, para mais uma "Noite do Patrimônio"...armada com minha máquina fotográfica e seu tripé, que é mais alto do que eu. O resultado foi surpreendente : diante da "imponência" do tripé todos pensavam que eu era uma repórter muito importante e quando eu me aproximava todos abriam espaço para me deixar passar. Me diverti muito neste aspecto, pois em relação ao acontecimento por ele mesmo achei esta noite menos interessante que a dos anos anteriores. O bairro selecionado foi o Centro, mais precisamente a principal artéria comercial da cidade. Logo, não havia habitantes para colocar as velinhas nas janelas, e isto quebrou um pouco o clima.

Começamos nosso périplo pelo mercado, que segundo o programa apresentava uma mesa redonda seguida de degustação sobre a cozinha na época da Renascença. O problema é que os "conferencistas" se instalaram no meio das bancas do mercado, não se escutava o que eles diziam e não vi nada de degustação...consegui assim mesmo algumas receitas da Renascença que eles estavam distribuindo. Havia também grupos de músicos e alguns comerciantes estavam fantasiados para a ocasião, o que me valeu algumas fotos.

Numa outra parada do circuito, eles explicavam como aconteceu o desenvolvimento da cidade que começou há dez séculos. Quais os bairros que se desenvolveram primeiro, quando e porquê. Também explicaram o plano de urbanismo atual da cidade, que deixou construir um prédio de escritórios horrível ao lado da estação de trens. E por falar em trens, eles disseram que devido à chegada do TGV, prevê-se que a população de Nancy vai passar de 150000 a 300000 habitantes nos próximos anos...acabou o sossego!

Em frente à loja de sapatos Bata, eles falaram do modelo social paternalista desta empresa, onde o patrão oferecia residência, escola e lazer para os empregados e suas famílias em cidades construídas em torno das fábricas para este fim. Por outro lado, o empregado gastava o que ganhava no comércio instalado ali pelo próprio patrão e tinha sua vida cotidiana misturada à vida na fábrica o tempo todo. Não sei se no Brasil houve exemplos deste modelo de indústria.

Num outro ponto do circuito, o assunto era um arquiteto quase desconhecido, que fez a transição da art nouveau para a art deco em Nancy. Isto se passava na frente de um banco, cujo prédio foi projetado por ele para ser na época hotel e cervejaria...Fomos andando e diante da Catedral, havia os artesões que trabalhavam com marionetes, a lutherie e a madeira. Nos atrasamos, mas mais adiante conseguimos ver o encerramento do desfile de modas proposto pelo programa. Voltando ainda conseguimos saber quem foi o personagem que dava nome a uma praça é ver a troupe do circo fazendo malabarismos, muito bonito e poético.

E assim depois de quase 4 h andando, pegamos o caminho de volta, com o bendito tripé (e as belas fotos que fiz graças a ele), cansadas, mas acho que valeu a pena.



sexta-feira, 14 de setembro de 2007

No Castelo do Rei Stanislas


Pintura mostrando o castelo de Lunéville na época do rei Stanislas
Stanislas é o personagem mais importante da história de Nancy, a praça principal da cidade tem seu nome, a rede de ônibus chama-se "rede Stan" e por aí vai. Mas antes de chegar aqui, ele foi rei da Polônia, país onde nasceu. Isto se passou no início do século XVIII e devido ao jogo do poder das potências da época como a Rússia, a Suécia, a Alemanha, ele foi destituído depois de somente 5 anos de reinado e vagou pela Europa procurando aliados na esperança de recuperar sua coroa. Até que um dia, tirou a sorte grande : sua filha Maria, então com 22 anos foi pedida em casamento para o rei Luís XV que tinha então 15 anos. A razão do pedido é que a corte francesa precisava encontrar uma princesa católica e em idade de procriar para assegurar a descendência real (que "romantismo", né?), e a filha de Stanislas era a única disponível nas paragens

E Stanislas, sogro do rei da França, teve que renunciar ao trono da Polônia, mas recebeu o título de Duque da Lorena e do Bar e o direito de reinar sobre este ducado até sua morte, depois da qual este seria anexado definitivamente à França. Quando este reinado começou ele tinha mais de 60 anos, as más línguas dizem que a coroa francesa esperava que ele morresse logo...mas ele viveu até 87 anos e isto foi uma sorte para Nancy e sua região, pois as obras que ele executou o transformaram no "Benfeitor da Lorena". Apaixonado pela arquitetura, ele construíu a magnífica Praça Stanislas em Nancy, que até hoje é uma das praças mais bonitas da Europa, e no seu castelo de Lunéville, que é uma réplica em tamanho menor do castelo de Versalhes, instalou uma das cortes mais ilustres e intelectualizadas da época. Quando ele morreu, Luís XV abandonou completamente a Lorena, e uma boa parte das realizações de Stanislas como o jardim de Lunéville, foi saqueada e desapareceu.


Estou contando tudo isto porque visitei na semana passada o castelo de Lunéville, onde ele viveu. Este, que abrigava um museu, a capela real e os apartamentos de Stanislas, sofreu um incêndio em 2003 que destruíu quase tudo. Atualmente está em reconstrução e a ala que teve menos estragos abriga exposições e peças de teatro, e foi justamente a exposição "Milune Miville"que fui visitar.


Como este ano o vidro e o cristal estão em destaque aqui na região, os novos artesãos-artistas da turma diplomada este ano no CERFAV (centro de estudos do vidro) estavam apresentando seus trabalhos nas salas e no jardim do castelo. Não tinha o esplendor do "Jardin de Cristal", mas não faltava originalidade e criatividade, como a "Mesa das Maravilhas" (à direita), onde o reflexo dos desenhos da "toalha de mesa" sobre um copo que se deslocava criava imagens diferentes e surpreendentes...Ou as cabeças de Stanislas em vidro, espalhadas sobre o asfalto na entrada do pátio do castelo (acima, à esquerda).


Aproveitamos também para passear no jardim , que tem ainda algumas estátuas antigas e é amplo e agradável sob o sol quase outonal.

PASSEIO PELO CASTELO DO REI STANISLAS


terça-feira, 11 de setembro de 2007

A Lenda de Kalidasa



Segundo a lenda, Kalidasa foi um pastor ignorante que se apaixonou por uma princesa e que, por meio de um complô, conseguiu desposá-la. Para obter o perdão, ele suplicou à deusa Kali de receber o dom da inteligência, que lhe foi concedida, e se tornou assim o mais renomado poeta e dramaturgo da literatura sânscrita, tendo inspirado Lamartine e Goëthe. Na realidade, supõe-se que ele viveu no século V da nossa era no norte da Índia e era uma das "nove pérolas" (nove sábios) do corte do rei de Ujjayini.


Eu o descobri há algumas semanas, lendo a revista "Le Point", onde deparei com a crítica sobre o livro "A Nuvem Mensageira" seguida pela "As Estações" de Kalidasa. O artigo citava algumas frases do livro, fiquei encantada e pensei : "Internet, prá que te quero?" Encomendei-o imediatamente e dois dias depois ele estava nas minhas mãos : um livro fininho, sem nenhuma imagem, sempre uma página em francês acompanhada do original em sânscrito, e enormemente de anotações do tradutor, pois segundo ele, devido à diferença cultural e à época no qual foi escrito, muitos trechos precisavam de explicação. Não muito encorajador, mas comecei a ler...


Ele começa com a "A Nuvem Mensageira", um poema de 111 estrofes, no qual um Yaksa (espécie de gênio ou semi-deus), exilado nas montanhas da Índia Central longe de sua esposa, que ficou na cidade de Alaka no norte do país, vê uma nuvem que paira sobre a montanha, e a encarrega de levar notícias suas à amada. E a descrição do caminho que fará a nuvem até chegar à morada de sua esposa é repleto de poesia louvando a beleza da natureza e o prazer de usufruir desta paisagem. Lendo-o, compreendi porque não havia imagens no livro, o texto é tão expressivo que elas não são necessárias. Espero ter encontrado as palavras apropriadas na nossa língua para transmitir toda a poesia que emana desta descrição, e fazê-los viajar com esta nuvem sobre os campos, templos e palácios até os confins do Himalaia, nestes extratos que coloquei aqui...




A Nuvem Mensageira (extratos)
Kalidasa

(passe o mouse sem clicar sobre as palavras sublinhadas para conhecer o significado)

Escute agora,ô, nuvem, que eu te explico o caminho que deve ser seguido. Você prestará bastante atenção. Eu vou te dizer sobre quais cumes, você, extenuada pelo cansaço irá posar, os rios dos quais, exaurida, você beberá a água doce.

Eu posso prever, minha amiga, que apesar do teu desejo de ir depressa para encontrar minha bem-amada, você passará algum tempo sobre todas estas colinas perfumadas pelo jasmim. Acolhida pelos pavões com os olhos úmidos cujos gritos te desejam as boas vindas, decida-se a deixá-los sem mais tardar.

Quanto teu cansaço passar, continue teu caminho, regando os jardins com tuas gotas d'água fresca, os botões em cachos dos jasmins nascidos às margens do Vannadi, derramando por um instante tua sombra familiar sobre os rostos das moças que colhem as flores que enrugam e murcham, a secar o suor de suas faces, os lotus de suas orelhas.

Seria te desviar caminho que deve ser seguido em direção ao Norte; mas não deixe de visitar os palácios de Ujjayini. Seria realmente uma pena não experimentar o charme dos olhos matreiros das citadinas, assustadas ao ver cintilar tuas guirlandas de relâmpagos.

A tua chegada, les Daçarna verão os canteiros de seus jardins se esbranquiçarem de ketaka cujos botões desabrocham; os santuários de suas cidades se encherem de pássaros alimentados pelas oferendas domésticas, ocupados com a construção de seus ninhos; o reflexo azulado dos frutos maduros marcar os bosques de macieiras-rosas e os cisnes viajantes ali ficarem durante alguns dias.

Pousada sobre a colina no gracioso cume do qual te falei, reduza logo de tamanho, para chegar depressa ao tamanho de um jovem elefante; você poderá então, com um dos relâmpago pálido, bem pálido, tal qual o luar de um enxame de vagalumes, lançar um olhar no interior do palácio.

A tendo despertado dum sopro que refrescam tuas gotas d'água, depois de tê-la reanimado com o perfume dos pequenos botões de jasmim, escondendo teus relâmpagos, envie a palavra grave de teu trovão a esta bela tão recatada cujos olhos se fixam sobre a janela estreita onde você se mantem.

"Nas visões do meu sono você aparece e eu estendo os braços no vazio, tentando te segurar com um abraço apaixonado. As divindades da terra, sempre, vendo esta cena não podem conter as lágrimas que, pesadas como as pérolas, descem sobre os galhos das árvores".

"Estas brisas vindas das Montanhas Nevadas fizeram se quebrar bruscamente os brotos sobre os ramos de déodars e correm em direção ao sul, perfumadas pela resina derramada. Eu abro meus braços para elas, virtuosa esposa : se pelo menos elas tivessem tocado o teu corpo!"



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sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Verde Esperança



Para este 7 de setembro, pensei em escrever algo para homenagear o aniversariante, nosso país. Sei que sob nosso “céu risonho e límpido” está coberto por muitas nuvens (ver meu post "Ordem e Progresso"), mas "nossos bosques tem mais vida" e desta natureza generosa que tantos nos invejam podem surgir muitas coisas boas, e é sobre algumas delas que eu gostaria de falar aqui hoje, como uma mensagem de esperança.

A primeira é o Projeto Tamar, que conheci durante minha mais recente visita ao Brasil. Ele foi criado para preservar as tartarugas marinhas da extinção, devido às ameaças naturais e à presença do homem. Mas logo se percebeu que para qua a ação tivesse sucesso, era necessário motivar as populações costeiras, oferecendo alternativas econômicas à exploração das tartarugas marinhas. Estas alternativas incluem a valorização artística e o resgate cultural das regiões onde o projeto está implantado, a criação de creches e hortas comunitárias, o desenvolvimento do ecoturismo e a associação dos moradores locais à ação dos pesquisadores. Logo, sob a bandeira da preservação das tartarugas marinhas são englobados a proteção do meio ambiente, a criação de empregos e a valorização da cultura local.

Um outro projeto interessante com o qual entrei em contato por meio do blog da Karina é o projeto "Meu Cerrado", implantado em Minas Gerais. Nele também, as condições de vida da população foram melhoradas utilizando recursos ligados às tradições locais, como o artesanato à base de bambu e de palha de milho e também a plantação de frutas, das quais se extrai a polpa que sera usada numa indústria que está sendo montada em regime de cooperativa. O resultado é que em 20 comunidades da região as crianças estão mais saudáveis, “Peso, medida, o índice de desnutrição vem caindo desde a implantação de hortas”.

Outro projeto magnífico e bem brasileiro do qual sinto muita satisfação em citá-lo é a pesquisa desenvolvida pela minha amiga a dra. Mitiko, com quem trabalhei durante anos no IPEN, em São Paulo. Ela realiza pesquisas sobre o uso do bagaço de cana-de-açúcar, fibras de coco, cascas de banana e outras biomassas para o tratamento de efluentes contaminados. Estes processos tem o grande mérito de utilizar estes sub-produtos de baixo custo e bem brasileiros para controlar a poluição e valorizar ainda mais a produção dos habitantes das zonas rurais.

Todos estes casos são exemplos de que, apesar de vivermos em uma época de mundialização, existem soluções que respeitam as tradições e o meio ambiente locais e que podem propiciar condições de vida dignas às populações. Desta forma, estas não precisariam migrar em direção às grandes cidades, onde muitas vezes vão engrossar o contingente dos que vivem em situação precária, o que leva ao desencanto e à violência. E viver dignamente podendo seguir sua cultura e tradições, e ser respeitado pelo que nós somos, não é isto a verdadeira independência?


terça-feira, 4 de setembro de 2007

As Flores do Meu Caminho


Acho que já contei aqui neste blog que gosto muito de caminhar a pé aqui pelas redondezas, principalmente quando há belas subidas, porque assim reúno o útil ao agradável, passeio e perco uns quilinhos. O problema é que posso fazer isso só no final da primavera e no verão. No outono e no inverno, em geral chove, venta muito, faz frio, neva e com isto as atividades exteriores perdem toda a graça...claro que para os que gostam de esquiar é uma beleza, mas não é o meu caso. Além disto as árvores perdem as folhas, as flores desaparecem, os dias são curtos, enfim uma desolação total por parte da natureza.

Este ano foi um pouco especial, pois o mês de abril no começo da primavera foi quente e belíssimo, e nos meses seguintes os dias de sol foram raríssimos. Agora no finalzinho do verão, o sol saíu um pouco, então pude começar a fazer as caminhadas e apreciar a natureza festiva do verão. Resolvi então fotografar as flores do caminho durante meus passeios, antes que elas acabem, o que não vai demorar muito. Mas não pensem que meus caminhos aqui na França são feitos só de flores, eles tem também pedras e espinhos, mas só deixo entrar as flores neste "Jardin Ephémère"...

Todas as fotos são minhas, mas o mérito (ou a culpa se elas não são boas...) é da minha máquina fotográfica, pois fora as que fiz com o zoom, todas as outras foram feitas no automático, pois não tenho muita paciência para ficar ajustando. Mas chega de blá blá blá, vamos às fotos, hoje é a natureza que dá o espetáculo.

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