quarta-feira, 4 de abril de 2007

O Mundo está se "Brasileirando"?



Pelo menos esta é a tese defendida pelo autor italiano Giuliano da Empoli publicada em um livro chamado "La peste et l’orgie" (versão francesa). Porque ele faz esta afirmação?

Segundo ele, o mundo ocidental não é mais o mesmo desde o fatídico 11 de setembro. Antes desta data os países ocidentais (1), principalmente os Estados Unidos com seu modelo maniqueísta do Bem e do Mal, irradiavam sobre os países da periferia suas idéias e certezas, o mundo estava se "americanizando". E tudo isto ruíu como um castelo de cartas com as torres gêmeas. Desde então, surgiu a era do medo, que estes países sentem em relação ao futuro e à violência. Aí começa sua analogia com o Brasil, onde ele evoca a visão dos mais ricos fechados nos condomínios de luxo cercados de seguranças, com medo de sair às ruas e ser atingidos por uma bala perdida, um assalto ou outro tipo de violência.

Outro argumento que ele evoca para comprovar sua teoria da “brasileirização” é o aumento da desigualdade social trazida pela globalização ao Ocidente. Ele observa que este é um aspecto importante da problemática brasileira e o mundo inteiro estaria caminhando neste direção. Mas por outro lado a globalização teria possibilitado também ao Ocidente, a interpenetração de várias culturas (2), fenômeno comparável à mestiçagem racial e cultural, que o Brasil já incorporou à sua identidade há séculos com sucesso. Diz ainda que a desestruturação da religião enquanto instituição que se observa no mundo ocidental onde se pratica uma religião “à la carte”, cada um adaptando seus dogmas segundo seu interesse pessoal seguiria o caminho do sincretismo religioso, que fez do brasileiro um povo politeísta e fatalista.(3)

Mas o ponto chave de sua teoria de brasileirização do mundo é “o espírito carnavalesco” do povo brasileiro, que estaria se propagando pelo mundo. Esta busca desenfreada do prazer seria segundo ele uma resposta à incerteza quanto ao futuro (4), fenômeno que já foi observado na Europa à ocasião das epidemias de peste, quando houve um aumento das orgias no continente. E este comportamento passional estaria em conflito com o modelo racional, que até então era considerado absoluto, o grau de civilização de uma pessoa sendo mesmo avaliado por sua capacidade de controlar seus impulsos naturais.

Sua conclusão é que a manifestação deste lado passional deve ser incentivada, pois se alguém está alegre e de bem com a vida, não será tentado a seguir movimentos fanáticos e radicais. E que os intelectuais ao invés de condenar as pessoas que se divertem tentando chamá-las “de volta à razão”, deveriam ser menos compreensivos com os terroristas que impõem o medo.


Minha Opinião:

(1) Acho muito engraçado esta apelação de “países ocidentais”, que não tem nada a ver com a geografia. O Japão é considerado um país ocidental, o Brasil não. Na verdade o aue os europeus chamam de "países ocidentais" é o que nós chamamos de “Primeiro Mundo”.

(2) Eles ainda estão bem longe de uma interpenetração de culturas como no Brasil, a prova é a tensão existente nas periferias das cidades européias, onde existem verdadeiros guetos.

(3) Politeísta não, eu diria “multireligioso”. Fatalista, talvez, com ditados como “O que não tem remédio remediado está” ou “Deus dará”, mas um fatalismo pragmático com “Ajuda-te a ti mesmo que Deus te ajudará”.

(4) Não acredito que o amor à vida característico do brasileiro venha da desigualdade social ou seja uma reação ao medo (embora não possamos negar estas duas facetas trágicas de nossa realidade), ela é inata. Não se pode negar que qualquer “menino de rua” brasileiro possui muito mais alegria de viver que qualquer intelectual do “mundo ocidental”.


Eles comentam este livro :
Sommes-nous tous des Brésiliens ? (em português)
Pátria amada (em português)
Nous sommes tous des brésiliens (em francês)



 

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