Foto de Jacques Prévert em Paris de Robert Doisneau
"Abrindo aspas para a poesia" a convite da Lunna, encontrei um problema. Adoro poesia, mas devido à minha (de)formação técnica não conheço muitos poetas. Na língua portuguesa meu preferido é Fernando Pessoa e seus heterônimos e quando estava na escola em todas as festas recitava poesias de Castro Alves e Olavo Bilac, a pedido das professoras. Felizmente a blogosfera está me ajudando a preencher estas lacunas, tenho aprendido muito sobre Cecília Meirelles, Clarice Lispector, Mário Quintana e sobre os poetas da nova geração, principalmente os que são blogueiros e talentosos, não é mesmo, Lunna?
Mas sobre quem escrever para esta coletiva, afinal os colegas blogueiros literários poderiam falar sobre todos eles melhor que eu. Então pensei nos poetas franceses que conheço, apesar de que humor e poesia não são coisas fáceis de traduzir. E entre eles, um que sempre me agradou desde os tempos de meu curso de francês é Jacques Prévert.
Pour faire le portrait d'un oiseau - Jacques Prévert
Peindre d'abord une cage
pintar primeiro uma gaiola
pintar primeiro uma gaiola
avec une porte ouverte
com uma porta aberta
com uma porta aberta
quelque chose de simple
alguma coisa simples
alguma coisa simples
quelque chose de beau
alguma coisa bela
alguma coisa bela
quelque chose d'utile
alguma coisa útil
alguma coisa útil
pour l'oiseau
para o pássaro
para o pássaro
placer ensuite la toile contre un arbre
colocar em seguida a tela contra uma árvore
colocar em seguida a tela contra uma árvore
dans un jardin
num jardim
num jardim
dans un bois
num bosque
num bosque
ou dans une forêt
ou numa floresta
ou numa floresta
se cacher derrière l'arbre
se esconder atrás da árvore
se esconder atrás da árvore
sans rien dire
sem dizer nada
sem dizer nada
sans bouger ...
sem se mexer...
sem se mexer...
Parfois l'oiseau arrive vite
As vezes o passarinho chega depressa
As vezes o passarinho chega depressa
mais il peut aussi bien mettre de longues années
mas ele pode também levar vários anos
mas ele pode também levar vários anos
avant de se décider
antes de se decidir
antes de se decidir
Ne pas se décourager
Não desanimar
Não desanimar
attendre
esperar
esperar
attendre s'il le faut pendant des années
esperar durante anos se necessário
esperar durante anos se necessário
la vitesse ou la lenteur de l'arrivée de l'oiseau
a velocidade ou a lentidão da chegada do pássaro
a velocidade ou a lentidão da chegada do pássaro
n'ayant aucun rapport
não tem nenhuma relação
não tem nenhuma relação
avec la réussite du tableau
com o sucesso do quadro
com o sucesso do quadro
Quand l'oiseau arrive
Quando o passarinho chegar
Quando o passarinho chegar
observer le plus profond silence
observar o mais profundo silêncio
observar o mais profundo silêncio
attendre que l'oiseau entre dans la cage
esperar que o passarinho entre na gaiola
esperar que o passarinho entre na gaiola
et quand il est entré
e quando ele tiver entrado
e quando ele tiver entrado
fermer doucement la porte avec le pinceau
fechar devagarinho a porta com o pincel
fechar devagarinho a porta com o pincel
puis
depois
depois
effacer un à un tous les barreaux
apagar uma por uma todas as grades
apagar uma por uma todas as grades
en ayant soin de ne toucher aucune des plumes de l'oiseau
tomando cuidado para não tocar em nenhuma pena do passarinho
tomando cuidado para não tocar em nenhuma pena do passarinho
Faire ensuite le portrait de l'arbre
Fazer depois o retrato da árvore
Fazer depois o retrato da árvore
en choisissant la plus belle de ses branches
escolhendo o mais belo de seus galhos
escolhendo o mais belo de seus galhos
pour l'oiseau
para o pássaro
para o pássaro
peindre aussi le vert feuillage et la fraîcheur du vent
pintar em seguida a folhagem verde e a frescura do vento
pintar em seguida a folhagem verde e a frescura do vento
la poussière du soleil
a poeira do sol
a poeira do sol
et le bruit des bêtes de l'herbe dans la chaleur de l'été
e o ruído dos bichos da erva no calor do verão
e o ruído dos bichos da erva no calor do verão
et puis attendre que l'oiseau se décide à chanter
e depois esperar que o passarinho resolva cantar
e depois esperar que o passarinho resolva cantar
Si l'oiseau ne chante pas
Se o passarinho não cantar
Se o passarinho não cantar
c'est mauvais signe
é mau sinal
é mau sinal
signe que le tableau est mauvais
sinal que o quadro não é bom
sinal que o quadro não é bom
mais s'il chante c'est bon signe
mas se ele cantar é bom sinal
mas se ele cantar é bom sinal
signe que vous pouvez signer
sinal que você pode assinar
sinal que você pode assinar
Alors vous arrachez tout doucement
Então arranque bem devagarinho
Então arranque bem devagarinho
une des plumes de l'oiseau
uma das penas do passarinho
uma das penas do passarinho
et vous écrivez votre nom dans un coin du tableau.
e escreva o teu nome num canto do quadro.
e escreva o teu nome num canto do quadro.
Jacques Prévert nasceu em Paris em 1900 e morreu em 1977. Conviveu com o grupo dos surrealistas de André Breton (do qual saíu por ser muito rebelde), e com a "tout Paris" dos anos de pós-guerra tendo sido amigo de Robert Doisneau, Juliette Grecco, Yves Montand, Edith Piaf. Além de seus poemas, escreveu também letras para canções como "As Folhas Mortas" (fundo musical deste post) e roteiros para filmes, entre eles o célebre "Cais das Brumas" com Jean Gabin e Michèle Morgan. Simone de Beauvoir, se referindo ao lugar que ele ocupava entre o pessoal do cinema que ela encontrava no famoso café "Flore" de Paris diz : "Então o deus deles, o oráculo, o professor de idéias, era Jacques Prévert, do qual eles veneravam os filmes e os poemas, do qual eles tentavam imitar a linguagem e o modo de se expressar". Porque ele fez tanto sucesso? Talvez a resposta venha do escritor George Ribemont-Dessaignes, que diz : "Mesmo quando Jacques Prévert escreve, parece que ele fala. Ele vem da rua e não da literatura."
Também acho que ter a capacidade de transformar o dia-a-dia em poesia, é pura arte, e porisso amamos tanto os poetas. Abram aspas para eles em suas vidas...
Paris na Época de Jacques Prévert
Para ouvir o poema "Pour Faire le Portrait d'un Oiseau" na voz de Yves Montand clique aqui. (neste caso, não esqueça de parar a música do diaporama no seu canto esquerdo inferior)
Foto do pássaro : do livro "Aves Brasileiras e Plantas que as Atraem" de Johan Dalgas Frisch e Christian Dalgas Frisch 3° edição pg. 386
▲ Alto da Página ▲
25 comentários:
Uma postagem digna de uma brasileira que adora o lugar onde mora! A melhor das músicas, e o melhor das poesias da terra!
Gostei muito do post!
Boa semana!
VIVA a França!
Bom dia Maria Augusta, sabe que eu também tive um problema para escolher um poeta. No meu caso, fiquei em dúvida sobre qual falar. Escolhi Keats porque recebi um poema dele na semana que passou e ousei traduzí-lo, mesmo não gostando de fazê-lo.
E que delícia de participação a sua. Perfeito. Grata pela sua participação.
E você tem razão, a blogosfera vai ficar mais poética hoje e talvez conquiste novos olhares. Não acha?
Abraços meus e desejos de uma linda semana a sua gentil alma.
Maria Augusta, gostei da idéia que você teve. O poema é mesmo muito bonito. Gostei da transformacao em se apagar as grades e substituí-las por folhas e galhos. Cantar ou nao cantar, eis a questao.
Nessa época do ano os pássaros estao todas as manhas bem cedo cantando para nós.
Boa semana
Maria Augusta, com isso nos deu oportunidade de ler uma bela poesia, logo pela manhã de segunda feira.
Com isso, ganhamos, porque temos a oportunidade apreciar aquilo que gostamos, e de conhecer aquilo que ainda nos era desconhecido.
Parabéns.
Um beijo e boa semana
Olá,
fiquei aqui, me sentindo pássaro, sentindo as letras da poesia que você escolhe.
Um abaraço
Jacinta
Maria Augusta,
que beleza de post...a poesia teem me encantado cada vez mais desde que entrei para a blogosfera...e Juliette Greco ...uma musa de tantos anos...a vi em Paris há tempos...ando passando uma fase onde o passado se faz presente em tantos momentos..hoje aqui com lembranças ..lindas ..
Obrigada pelo post..."touchè"...
beijos
Maria Augusta
que encanto está este jardim.
Referências, música e poesia.
Nada melhor que começar a semana mais do que "cultural"!!!
ops: obrigado pelas suas palavras lá no Só poesias.
bjs.
JU Gioli
Mas que poesia mais linda!
Deu pra viver toda a cena.
Bjs
Maria Augusta
Me identifiquei bastante com você na introdução do seu post, eu também estou aprendendo e conhecendo mais de poesias com os amigos blogueiros, mas vejo que está fazendo um belo papel nessa blogagem.
Bjs e um ótimo início de semana.
Denise BC
Maria Augusta! Você não tem jeito! hehehe
Andamos muito sérios ultimamente e isso não é bom!
Confesso que não via a hora de chegar a blogagem da Lunna e poder ver mais poesia pela blogosfera.
Gostei do cristal!
Li dois livros de Jacques Prevért - Contos para crianças impossíveis e Dia de Folga, ambos em edição bilingüe - minha mãe dava aulas de francês na época. Eu era criança e ela dizia que esse primeiro livro era para crianças impossíveis se tornarem mais impossíveis! :=)))
Prevért gostava muito de pássaros. Existe um outro poema "Passáros ao Acaso" em que ele diz isso, de como aprendeu a gostar deles, vendo os exemplos que os pássaros davam. Como um coração tão pequenino cabe tanto sentimento? podendo até morrer por simples mágoa num ataque cardíaco fulminante.
Nunca mais tive pássaros em casa!
Boa blogagem!! Beijus,
Parfait, Maria Augusta! "Tirar a gaiola" é muito significativo. Adoreio poema. E o autor também.
beijo,menina
Que lindo, Maria Augusta! Poesia, música, tudo.
O dia hoje foi de muita alegria nos blogs, pena que não pude visitar muitos.
Bjim.
Por coincidência, li ontem, pela primeira vez este manignífico poema.
Hoje, encanto-me por relê-lo.
Belíssima participação na blogagem.
Obrigada.
beijos
Eduardo, realmente Jacques Prévert é um dos poetas mais significativos da cultura francesa, ele fala das coisas simples, talvez porisso seja tão popular, pessoalmente gosto muito.
Abraços.
Lunna, parabéns pela iniciativa desta blogagem, encher a blogosfera de poesia numa segunda, foi uma ótima idéia. Gostei muito do poema do Keats que você citou, e concordo que traduzir a poesia não é fácil. Beijos.
Georgia, é a parte do poema que gosto mais, quando ele apaga as grades da gaiola...e espera o passarinho cantar, aqui também começamos a ouvi-los, parece que a primavera resolveu chegar...Mas timidamente.
Beijos.
Aninha, eu também vi poemas tão bonitos nesta blogagem, é delicioso para uma segunda, você tem razão.
Beijos.
Jacinta, Prévert tem esta capacidade de nos transportar com suas palavras...
Obrigada pela visita e um grande abraço.
Vi, que bom que este post te trouxe boas recordações. Juliette Greco foi uma grande musa da "Rive Gauche", um de seus símbolos. Ela ainda está em atividade, de vez em quando aparece na televisão.
Beijos.
Ju, é tão bom postar sobre temas assim, falar de coisas bonitas, né? Você também é uma grande poeta, além de artista plástica de talento.
Grande beijo.
Meire, é verdade, ficamos esperando o passarinho chegar junto com ele, Prévert sabe criar o ambiente com as palavras.
Beijão.
Denise, é verdade que a blogosfera me fez descobrir e apreciar muitos poetas, também entre os blogueiros. Obrigada pela visita e um grande abraço.
Luma, a blogosfera é assim mesmo, um dia lutamos, no outro sonhamos com os poemas...o cristal foi um presente da minha irmã para neutralizar as "ondas" do computador...
Que bom que você gosta de Jacques Prévert (então você era uma criança impossível?), bonito isto "como num coração tão pequenininho pode caber tanto sentimento?"
Beijos.
Denise, "tirar a gaiola" é o detalhe que dá todo o valor ao poema, concordo com você.
Beijão.
Rosamaria, que bom que você gostou. Obrigada pela visita e um abração.
Saramar, que coincidência, não é mesmo? Obrigada pela visita e um grande abraço.
lindo post, cheio de sensibilidade. maria augusta, vir ao seu blog é como recarregar a bateria, que anda cansada ultimamente. que show essa postagem!
Que belo post, Maria Augusta! Realmente um primoroso trabalho reunindo poesia, música, slide show... É sempre um grande prazer vir aqui, além da beleza, aprendo sempre com você.
Gosto muito desta foto de Prévert com seu cachorro, por Robert Doisneau. Inclusive esta foto é capa de um livro muito delicado e sensível, que gostei bastante, "Da dificuldade de ser cão", de Roger Grenier.
Obrigada pelas palavras gentis no meu post com a Flora. Você já deve ter percebido que sou apaixonada pelos cães!
Beijos.
Lindo post, Maria Augusta. Gostaria de ter participado desta blogagem coletiva sobre poesia - um de meus temas preferidos. Quem sabe o dia que eu REALMENTE me tornar um blogueira, né !
Sobre pássaros e outras belezinhas da natureza há o nosso Manoel de Barros. "Compêndio para uso dos Pássaros" nem é todo sobre pássaros, mas faz a gente voar.
Agora vou atrás de Jacques Prévert. Obrigada pela dica !
Liniane
Querida só voltando...para te agradecer sempre os comentários tão gostosos de encontrar...e para te dizer que o link do "Feuilles Mortes"no noVí tá,... traz aqui...onde a inspiração foi total...
beijos
um post fantástico e maravilhoso ...
os poetas que indicas também são todos do meu agrado ... o francês ... não conhecia e gostei do que li ....
e acho que tens toda a razão:
"Também acho que ter a capacidade de transformar o dia-a-dia em poesia, é pura arte, e porisso amamos tanto os poetas. Abram aspas para eles em suas vidas...
"
parabéns pelo post que adorei
beijinhos e bom fim de semana
Maria Augusta. Você não me conhece. Achei seu espaço, por acaso e me encantei...
Estudei francês. Sou apaixonada pelo idioma e pela literatura francesa.
Jacques Prévert sempre foi um dos meus poetas favoritos( sobretudo porque, nas aulas, achávamos sua linguagem bem acessível...rs).
Mas, eu fiquei meio desorientada aqui...Não sabia se ouvia Les Feuilles Mortes, se lia o texto, se clicava logo em Ives Montand...
Tenho que voltar, de novo e de novo...
Mas, já lhe deixo meu abraço de admiração!
Dora
Teresa, que bom que você gostou, espero que este fim de semana longo te permita de recarregar as baterias.
Beijos.
Sonia, percebi sim que você é apaixonada pelos cães, a Flora parece ser muito feliz. Esta foto do Doisneau é realmente muito bem feita, né?
Grande beijo.
Liniane, pois é, você podia voltar para a blogosfera. Obrigada pela dica do livro dos pássaros, adoro tudo que se relaciona a eles.
Obrigada pela visita e um beijão.
Vi, não precisa agradecer, adorei o vídeo e ver a letra da canção "Feuilles Mortes" de Prévert lá no teu blog.
Beijos.
Isabel, que bom que este post te fez descobrir Jacques Prévert. No teu blog também sempre vejo poemas muito bonitos.
Grande beijo.
Dora, obrigada pela visita e pelas palavras, volte sempre, é um prazer.
Abraços.
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