Depois de um inverno seco e sem neve, o calendário diz que "é primavera"! Mas será? Olho pela janela e vejo a cidade branquinha de neve. Olho a televisão e vejo as estradas bloqueadas devido às borrascas. Será que é mesmo primavera?
Primavera aqui é sinônimo de caminhada na floresta, vendo os bichinhos correndo e brincando saudando os belos dias que chegam...mas no momento na floresta só tem o silêncio e a lama no chão! Cadê a primavera?

A vegetação também desabrocha e os crocus (florzinhas à direita) invadem a paisagem anunciando que a estação das flores chegou. Mas estes dias os que se atreveram a despontar foram cobertos pela neve ...Cadê a primavera?
No lugar dos crocus só se pode ver os "perce-neiges" (fura-neve). Cadê a primavera?
É a época que vemos nas feiras, nas praças e nas ruas, os vendedores de "jonquilles", estas florzinhas do campo amarelas (à direita)...mas cadê eles? Não tem "jonquilles" em lugar nenhum! Cadê a primavera?
Com o fim do inverno as "mimosas" se abrem e perfumam o ar...por enquanto ainda não pudemos "por o nariz lá fora" para sentir o odor, pois está fazendo muito frio. Cadê a primavera?
E a estação onde as tulipas aparecem, lindas, de todas as cores. Ainda não vi nenhuma, será que este ano não as veremos? Cadê a primavera?
Na primavera os passarinhos cantam e nos acordam de manhãzinha com seus gorjeios...mas no momento eles estão bem escondidos, certamente encolhidos em seus ninhos protegendo seus filhotinhos do frio. Cadê a primavera?
E como diz a música do Bambi "o sol brilhará o tempo todo"! Mas ele está bem pálido, escondido atrás das nuvens espessas sniff, sniff. Cadê a primavera?
Desculpem se este post está meio azedo, mas eu quero os passarinhos cantando e o sol brilhando e as flores desabrochando...quem acabou com a primavera?
Update (29/03/2008)
A Leonor nos presenteou com este jóia nos comentários :
Primavera
..."A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim.
Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.
Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira -Rio de Janeiro, 1998, pág. 366."...
Update (31/03/2008)
Festa Primaveril das Jonquilles na França (vídeo em francês com belas imagens)
Em Saint-Etienne-de-Montluc, A festa das "jonquilles" é uma tradição. Para a ocasião, os habitantes fazem carros alegóricos completamente cobertos de "jonquilles" selvagens. Passeio pelas ruas da cidade.