Na semana passada, vi na televisão as comemorações com grande pompa dos 60 anos da independência da Índia. Este gigante emergente como é considerado, apesar da pobreza na qual vive uma parte de sua população e das ameaças terroristas que tem recebido, vê o futuro com otimismo, pois seu crescimento entre 2006 e 2007 chegou a nada menos que 9,4%! Mas quando penso na Índia me vem à idéia o magnífico Taj Mahal, o Himalaia “teto do mundo”, os marajás, os sikhs, os rios sagrados, os yoguis, os deuses misteriosos, mas principalmente o nome de Gandhi. Mas quem foi este homem, o “faquir semi-nu que fez tremer o Império Britânico”, como dizia Churchill?
Ele nasceu e cresceu na Índia ocupada pelos britânicos, fez seus estudos de direito na Inglaterra e partiu para a África do Sul para trabalhar. E foi lá que ele conheceu o preconceito contra os indianos e começou sua luta pelos direitos de seu povo. Voltando à Índia 20 anos depois ja famoso, ele dedicou sua vida à obtenção da independência de seu país.
Para isto, batalhou pela unificação dos indianos e pela criação da identidade nacional, ao mesmo tempo que atacou o sistema de castas procurando extinguir a casta dos intocáveis. Pregou um modelo econômico baseado na agricultura e no artesanato, em confronto com o modelo ocidental industrial do invasor. Adotou uma vida de asceta, praticando inclusive a abstinência sexual (que dizem que ele seguiu "mais ou menos", depois fazia um jejum para expiar...)
Sua doutrina era a resistência contra o ocupante britânico pela não-violência, ele desejava libertar a Índia sem que que haja derramamento de sangue. Devido a seus atos de « desobediência civil pacífica» (boicote das escolas, tribunais e dos produtos britânicos e manifestações silenciosas), contra o Império esteve preso várias vezes e fez várias greves de fome para obter suas reivindicações.
E ele conseguiu a independência da Índia…mas a que preço. O país foi dividido em dois, um para os hindus e sikhs, outro para os muçulmanos, o Paquistão, ele mesmo dividido em 2 partes a oeste e a leste da Índia (que se tornou depois Bengladesh). Esta partição provocou o maior êxodo da história e um enorme banho de sangue, Quanto à casta dos intocáveis, apesar de ter sido “abolida” na constituição, na prática ela subsiste até nossos dias. E o modelo econômico adotado pela Índia desde então é o modelo industrial ocidental, que ele tanto combateu. E ele, que era um adepto da não-violência, depois de ver seu país dividido e a guerra civil entre seus compatriotas, morreu assassinado por um fanático hindu.
No entanto, o seu grande mérito foi ter sido o cimento que uniu a nação indiana. Atualmente ele é admirado não só pela sua doutrina da “não-violência” neste mundo tão ameaçado pelo terrorismo, mas também por suas idéias de valorização das coisas naturais. Após estas décadas de modelo industrial que estão esgotando o planeta, vê-se com outros olhos a filosofia de Gandhi que considerava que cada um deve viver com o estritamente necessário para seu conforto e que as técnicas de transformação devem ser as mais naturais possíveis. Na verdade, ele foi um dos primeiros ecologistas.
Algumas Citações de Gandhi :
As enfermidades são os resultados não só dos nossos atos como também dos nossos pensamentos.
O erro não se torna verdade por se difundir e multiplicar facilmente. Do mesmo modo a verdade não se torna erro pelo fato de ninguém o ver.
O amor é a força mais abstrata, e também a mais potente, que há no mundo.
O ahimsa (amor) não é somente um estado negativo que consiste em não fazer o mal, mas também um estado positivo que consiste em amar, em fazer o bem a todos, inclusive a quem faz o mal.
Só podemos vencer o adversário com o amor, nunca com o ódio.
Outras frases de Gandhi
Diaporama "As Mais Belas Fotos dos Leitores"
Diaporama "A Índia tem Personalidade"
Livro "Esta Noite a Liberdade" de Dominique Lapierre e Larry Collins (excelente)
22 comentários:
Madrugada calma, ótima para ler o que de melhor alcança nossos olhos. Sabe? Eu sempre questiono essas "lutas por independência". Sempre há aqueles que querem algo nobre, mas creio que o problema seja que a maioria não compreende nada disso.
Veja o caso de Marx que pensou idealizar o estado novo e moderno. Veja o que fizeram de suas idéias mundo afora.
Estive na India em 2003 e lembro do que meus olhos viram: um mundo insano de cores e perfumes misturado a uma lamentável pobreza sem igual. E de repente salta aos olhos a beleza e a riqueza de um Taj Mahal que não combina com o contraste anterior.
A riqueza que esse homem deixou é sem igual, mas será que algum dia a humanidade irá reconhecer o real valor existente nessas mensagens...
Abraços meus a você.
Ps. O Lenta Composição está fechando um ciclo e eu já penso em outro. Não vou abandonar esse universo que aprendi a gostar, vou apenas dar um passo a frente. Afinal, conheci pessoas como você que trás algo sempre novo aos meus olhos.
Espero que não se importe, mas fiz há pouco:
Umido gosto de orvalho
com cheiro de folha adormecida
a compor a lembrança de um sonho bom!
Brilho de sombras amenas
a responder as luzes dos altos postes
que respingam asas
aos passo meus por sobre as calçadas...
A noite e sua marcha
de campos adormecidos
Vai sem pressa... Mais lenta,
Enquanto o pio atento da coruja
reza sobre minha habitual desatenção...
A vida se deixando passar
entre um pensamento ou outro
Um suspiro em mim...
E a chuva que já começa
junto com a manhã
Que diferente de mim: desperta.
Dedico esse instante de ilusão a você.
Poema 972 (faltam oito).
Lunna, Gandhi foi um idealista, mas sua luta n�o deu o resultado que ele esperava, o importante � que suas id�ias subsistem e podem inspirar as pessoas.
Fiquei emocionada com este lindo poema, muito obrigada por esta j�ia que acabou de ser burilada e que voc� me deu a honra de publicar aqui no "Jardin".
Seguirei teus novos projetos na blogosfera e te desejo muito sucesso para todos eles. Um beijo grande.
Eu adoro a filosofia dele, mas como mostrou a historia, não usar da violencia na independencia de um país foi praticamente impossivel. O ser humano é perverso por natureza mesmo.
bjs
Olá Maria Augusta Querida,
Que saudades de passar por aqui, esses dias tem sido corrido, mas enfim, estou de volta.
Que post maravilhoso esse de Gandhi! Tenho uma admiração enorme pela sua luta social, política e ecologica.
Algumas vezes me pergunto, por que pessoas como ele, só são valorizadas depois que morrem.
Apesar de tudo, o importante é a mudança que toda sua luta causou.
Beijos e uma ótima semana.
Fatos históricos importantíssimos que repercutem até hoje, consequentemente dando clarão à novos pensadores.
Não tenho muito a acrescentar; eu li uma biografia de Gandhi e vou falar aqui do seu lado romântico, talvez por isso era contra a Guerra. Os Homens da guerra não sabem amar.
Da biografia foi retirado o nome de Saraladevi. Ela era casada e Gandhi também. Fizeram um pacto, um casamaento espiritual, um acordo entre eles. Eles nunca se casaram realmente.
Quando ele se apaixonou por Saraladevi, sobrinha do poeta Tagore, ficou fascinado por sua beleza, inteligência e se referia à ela como a ‘deusa Durga que desceu a terra’.
Eles terminaram o relacionamento por causa das pressões e passados 20 anos, Saraladevi pediu que a Gandhi que casasse Dipak, seu filho, com Indira Gandhi. Pedido negado. E após a morte de Gandhi e Saraladevi, Dipak casou-se com a neta de Gandhi, Radha.
Não se pode dizer que eles não perpetuaram o amor. Um linda história de amor!
Liga não Maria Augusta :)))))) é que hoje eu estou docinho, docinho...rs.
Beijus
Sereia, e o mais paradoxal foi que ele conseguiu evitar a guerra da independência contra os ocupantes ingleses, mas não pôde evitar a guerra civil entre seus compatriotes hindus e muçulmanos. Um beijo grande.
Lina, que bom tê-la de volta, já estava ficando com saudades. Durante sua vida, Gandhi contou para seu povo, mas depois de morto ele se tornou um símbolo de não-violência para o mundo inteiro. Beijos e curte bem o verão aí no Japão.
Luma, mas estes comentários estão geniais. Depois do poema inédito da Lunna, chega você com a sua luz e conta uma história de amor proibido do Gandhi. Muito legal, obrigada por este complemento tão interessante. Beijos.
Gandhi, um estadista da tese: só o amor constroe.Luma nos confirma!
Abçs
A India e uma pais com o indice de violencia nulo.
Ghandi, grande exemplo.
Eduardo, apesar de que o mundo não adere sempre a idéias assim, é necessário que de vez em quando apareça alguém para falar delas, pelo menos faz pensar. Um abraço.
Luci, é uma pena que com toda a pressão que existe com os vizinhos já se envolveu em várias guerras e está constantemente sob ameaça terrorista. Um beijo.
Querida amiga
nunca me canso de dizer como faz bem à alma passar aqui no seu jardim.
Não tenho o que acrescentar, depois de comentários tão inspirados quanto seu excelente texto. Gandhi foi sempre uma referência em minha vida, minha mãe nos fez assistir e digerir o filme sobre a vida dele ainda crianças e isto modificou para sempre nossa forma de ver o mundo. A minha e a de muitas pessoas, o que é bárbaro.
Mas entendo o que disse sobre a forma como a independência aconteceu e a luta que sucedeu à separação entre os vizinhos. Quando morei no oriente tive chance de acompanhar esta questão de forma mais próxima e me surpreende que, como outras coisas que acontecem atualmente no mundo, não cause um impacto maior nas pessoas.
Já li Esta noite a liberdade, um livro dos mais importantes para se conhecer a vida desse homem.
Sam, a filosofia dele é muito admirada, é bom saber que ele ainda influencia as pessoas. Quanto à luta entre a Índia e seus vizinhos, é incrível ver como o mesmo povo pode se detestar tanto, só porque tem religiões diferentes...Um beijo.
Sonia, li este livro há muitos anos e nunca me esqueci. Foi graças a ele que comecei a me interessar pela Índia. Um beijo.
Maria, fiquei aqui no seu blog um tempão!
eu não sabia nada além do básico sobre gandhi...
estou impressionada com a historia de amor que a luma contou...
terei muito o que ler esse fim de semana!
um bjos, e obrigada pela aula!!!
bjos
Lembro do filme. Pra mim o Gandhi sempre será Ben Kingsley. E, com certeza, está mais atual que nunca. Liniane
Oi moça...
Estou passando por aqui para deixar-te um convite.
Enlouqueci e criei uma Blogagem Coletiva. Espero que aceites meu insano convite.
Beijos meus
Muito bom seu blog de hoje sobre esse grande homem, Gandhi. Bj
Muito bom seu blog de hoje sobre esse grande homem, Gandhi. Bj
Marília, que bom que você achou o assunto interessante. Boa leitura e um beijo grande.
Liniane, sabe que não vi este filme? Preciso vê-lo, vou procurar. Beijão e obrigada pela visita.
Lunna, conte comigo para tua blogagem coletiva sobre o amor, vou divulgar aqui também. Beijo grande.
Célia, é verdade, Gandhi foi pequeno no tamanho mas grande na sabedoria. Um beijão.
A mais completa e sucinta "aula" sobre a India e sobre Ghandi que eu já testemunhei.
Mesmo chegando atrasado (ainda bem que me deixaram entrar).
Li e reli e ainda vou reler mais uma vez antes de passar ao próximo post.
Parabéns, Maria Augusta!
Como sempre!
Um beijo!
Oscar, você não chegou atrasado, não é uma aula. É que gosto de organizar as coisas que eu vou lendo nos posts e no final parece uma aula, mas não é a intenção. Obrigada pela visita e pelo comentário, um beijo.
Acredito muito na força transformadora do amor e no poder que têm nossas ações e pensamentos. Devemos, como um exercício diário e interminável, buscar o auto-conhecimento, para assim, amarmos a nós mesmos e o próximo e investigar nossa alma profundamente, afim de extrair o melhor de nossas ações e pensamentos. Uma força dessas, vindo de um grupo grande de indivíduos tem um poder gigantesco, inigualável, transformador.
http://movimentonatura.wordpress.com/
Muito bom esse post. Tenho vontade de ler mais sobre Gandhi e vou procurar as dicas que colhi por aqui.
Apesar de nem sempre serem compreendidos e de muitas vezes suas idéias acabarem sendo deturpadas, esses idealistas nos deixam uma bela mensagem do quanto vale a pena lutar pelos nossos sonhos e ideais.
"O amor é a força mais abstrata, e também a mais potente, que há no mundo." Essa frase é tudo.
Bjs Maria e obrigada pela ótima leitura.
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