sexta-feira, 29 de junho de 2007

Teu carro movido a algas?



No Dia Mundial da Terra assumi um compromisso com o Movimento "Faça a Sua Parte" em relação à uma ação individual colaborando no combate ao problema climático que enfrenta nosso planeta. Nesta ocasião, prometi divulgar projetos encontrados na imprensa científica internacional relativos a este assunto. Este post é uma colaboração neste sentido.

O biocombustível está na pauta de todas as discussões sobre a matriz energética atualmente e é considerado como o sucessor do petróleo para o transporte. Em todos os países as plantações de cana de açúcar, e das oleaginosas em geral, como o girassol, a colza, a soja se estendem para fornecer a matéria prima do "combustível do futuro".

No entanto, os defensores do meio ambiente já apontam vários problemas que poderiam ser acarretados por sua produção em massa (veja também o post "Etanol" do Faça a Sua Parte") :

- problemas de biodiversidade, pois trata-se de uma monocultura,
- degradação do meio ambiente, pela utilização de adubos e pesticidas
- utilização de grandes extensões de terra, que poderiam ser usadas para a plantação de alimentos, sem falar nos riscos de deflorestação
- alto consumo de energia para a sua produção

Diante destas restrições, uma nova fonte potencial de biocombustíveis vem sendo estudada com o objetivo de fornecer o biodiesel para os transportes : as microalgas. Estas, sob condições de estresse, produzem de 20% a 80% de seu peso seco em ácidos graxos (dependendo da espécie), que é a matéria prima do óleo combustível. Para sua multiplicação (por divisão...) elas necessitam somente de luz do sol, água (que pode ser a água do mar), sais inorgânicos (de fósforo, de nitrogênio) e pasmem, de CO2. Sim, para se reproduzir elas precisam consumir CO2, um dos gases responsáveis pelo efeito estufa. Além de ser um recurso renovável e biodegradável, seu rendimento em óleo combustível por hectare é 30 vezes superior ao das culturas das plantas oleaginosas.

Fonte : Relatório NREL/TP-580-24190


Sua produção pode ser feita em grandes “piscinas” a céu aberto (esquema acima), nas quais são injetados o CO2, os sais necessários, agitação e naturalmente, sob a luz do sol, da qual sua reprodução é altamente dependente.

Elas também podem ser obtidas em bioreatores, os quais são formados de tubos transparentes enrolados em espiral (foto acima)de forma a deixar a maior superfície possível exposta à luz. O elemento nutritivo principal, que é o CO2, pode ser fornecido pelas fumaças das chaminés das centrais elétricas, próximos das quais os bioreatores serão localizados. Desta forma, além de se constituir na matéria prima para a produção do biodiesel, elas contribuem também à reciclagem do CO2, que é um dos responsáveis pelo efeito estufa. Em seguida, as algas produzidas são "colhidas" e concentradas, o oleo é extraído e transformado em biodiesel.

Painéis solares produtores de algas já vendidos na Espanha e na África do Sul


Um problema ainda é o preço, dados de 1998 calculavam que o barril de biodiesel produzido a partir das microalgas saía por 100 dólares, logo melhoras são necessárias para torná-lo competitivo. E não faltam esforços neste sentido. Países como a Suíça, a Alemanha, Israel, a África do Sul, a Argentina, Portugal, já estudam esta alternativa energética, sendo que os Estados Unidos realizam estudos sobre elas desde os anos 50, estudos estes que se aceleraram com a crise do petróleo da década de 70. A França, criou o consórcio Shamash, em dezembro de 2006, reunindo vários laboratórios de pesquisa visando melhorar cada fase do processo, de modo a reduzir os custos respeitando os critérios do desenvolvimento sustentável.


O Brasil aposta no etanol como biocombustível. No entanto, diante dos problemas colaterais de sua produção em grande escala citados acima, seria interessante para o país diversificar suas possibilidades de produção de combustíveis para o transporte. Tive conhecimento que a COPPE/UFRJ do Rio, viabilizou um processo para a obtenção de biodiesel a partir do tratamento do lixo e dos esgotos. No entanto, sua produção a partir de microalgas embora conhecida, ainda não dispõe de iniciativas concretas. Paulo Suarez, da Universidade de Brasília, declarou recentemente (20/05/07) "está ficando claro para mim que as algas são uma alternativa concreta de fonte de matéria-prima para aprodução de biodiesel. Acredito que está na hora de colocarmos essa alternativa na nossa pauta e iniciar a desenvolver tecnologia adaptada ao nosso país, sob o risco de haver no futuro próximo uma perda completa de competitividade do biodiesel produzido pelas culturas tradicionais".

Para saber mais :

A Look Back at the U.S. Department of Energy’s Aquatic Species Program: Biodiesel from Algae
Modeling and Simulation of the Algae to Biodiesel Fuel Cycle
Biodiesel et microalgues
Microalga como matéria-prima para a produção de biodiesel

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25 comentários:

Anônimo disse...

Em todo o mundo há, hoje, pesquisas sobre combustíveis alternativos. Um deles - vi no National Geographic - é um carro movido a ar, o que significa um veículo totalmente limpo. E ele já está sendo produzido.

Anônimo disse...

Importantíssima esta sua postagem, e abordagem do assunto.
Não irei tratar aqui, por não ser exatamente o lugar adequado, mas a história dos problemas levantados pela opção brasileira, não é bem assim. Tem área e terra suficiente para cana e para alimentos. Outros países e outros interesses estão por trás dessas críticas. Mas o importante é levantar o problema e discuti-lo.

Parabéns!

Abçs

Lina disse...

Olá Maria Augusta,

Interessante tudo isso, uma visão que aqui no Japão não se parece ter.
Os carros produzidos atualmente, desde os populares aos de luxo, são boa parte hibridos. Também não creio que haja muita opção num país que não planta quase cana, nenhum tipo de sementes, não tem petróleo...
Outro dia vi numa reportagem, um país que já usa alguns ônibus movidos à água do mar.

Beijos e um ótimo dia!

samegui disse...

Minha cara, fico feliz cada vez que visito seu jardim. É importante discutirmos os biocombustíveis e as "alternativas", pois há vários critérios para avaliarmos se elas são ou não positivas e viáveis. Sou pessoalmente favorável e simpática ao uso de algas para várias coisas, vou acompanhar de perto o desmembrar destas pesquisas.
O Paraná (meu estado natal) tem um trabalho interessante sobre biocombustível na agricultura de energia e uso de biomassa como alternativa às fontes de energia fósseis.

Anônimo disse...

Para se produzir o biocombustível a partir de oleaginosas, há um grande disperdício, já que das sementes se extrai em média 80% de farinha e apenas 20% de óleo.Por isso essa experiência com o cultivo de micro-algas para a produção de biocombustível. As micro-algas viriam substituir a colza e a soja.
As vantagens são inúmeras, porque as algas se reproduzem muito rapidamente, a área de produção é menor que as atuais, além é claro, como disse, o sequestro de dióxido de carbono.
Aqui no Brasil, recentemente teve um encontro de grandes empresas para discutir sobre as algas, inclusive a Petrobrás esteve presente. O Paraná deverá ser o Estado beneficiado com uma usina por causa do porto de paranaguá. Outra empresa que está ligadinha nas algas é a General Eletric.
Agora pasme, sabe com quê eles estão pesquisando? Frutose. Daqui a pouco as frutas sumirão do nosso cardápio.
Desculpe, acho que isso ficou imenso! Bom fim de semana! Beijus, Luma









p








por iss

Laura_Diz disse...

Legal teu post.
Se todos pensassem assim...
Querida, acho que só vou ter o seu voto hihihi
bjs Laura

Anônimo disse...

Lino, isto seria uma solução ideal, um carro movido a ar. Mas com todos os interesses econômicos em jogo, acredito que por ser gratuito não é uma solução atraente...

Anônimo disse...

Eduardo, você tem razão, os países que não possuem terras suficientes para cultivar são os que as criticam mais. O Brasil pode estar orgulhoso da solução "etanol" e com razão, mas deve levar em conta os problemas do meio ambiente acarretados por ela...e também ter mais que uma carta na manga pois se a produção a partir das algas em outros paises ficar mais barata (com tanto investimento na pesquisa isto pode acontecer)o que vamos fazer? Importar? Um abraço.

Anônimo disse...

Lina, sei que o Japão também esta pesquisando sobre as algas, para eles é importante porque não dispõem de grandes áreas para as plantações. Legal esta info sobre os ônibus movidos a água do mar, ainda não tinha ouvido falar. Beijos.

Anônimo disse...

Sam, verdade que é preciso estudar todos os ângulos do problema, atualmente não dá mais para ignorar o impacto sobre o meio ambiente. E estar aberto a outras soluções, que bom que o Paraná esta fazendo pesquisas nesta área. Beijão.

Anônimo disse...

Luma, que ótima informação você está trazendo, que no Brasil já houve discussões sobre as algas e mesmo existe um projeto duma usina no Paraná. Apesar de já possuir o etanol, o Brasil não pode ficar atrás nesta corrida da escolha do combustível mais interessante para os transportes no futuro. Beijo e bom fim de semana.

Anônimo disse...

Laura, obrigada pela visita. Quanto aos votos, precisávamos jogar estrategicamente e achar um cabo eleitoral (rs). Beijo, bom fim de semana.

Osc@r Luiz disse...

Absolutamente S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L!
Adorei!
Não sabia da missa a metade...
Puxa!
Como é bom vir aqui...
Beijo, querida!
Parabéns!

Anônimo disse...

Que bom que você gostou, Oscar. Beijo e bom fim de semana.

Lunna Guedes disse...

Gosto de acreditar que as coisas podem ser diferentes de alguma forma. Que algum dia irei acordar e ver que muitos outros olhares pensam no plural e não no singular, como você o faz... É cada um fazendo a sua parte, como aquele pequeno beija flor.
Abraços e um maravilhoso final de semana...

Andréa disse...

Vim retribuir sua visita e adorei seu blog também!
Excelente post. O mundo precisa mudar.
Abraços.

Lilica disse...

Maria Augusta, adorei este post. Eu não tinha conhecimento que as pesquisas estavam avançadas em relação a isso. Agradeço também a Luma que trouxe aqui informações sobre estes estudos no Brasil.
Parabéns pelo post.
Um abraço e um ótimo fim de semana.

Anônimo disse...

Lunna, que bonito, você traz teu toque de poesia, isto faz tão bem.
Obrigada pela visita e ótimo fim de semana.

Anônimo disse...

Andréa, obrigada pela visita, sei que você também faz tua parte. Um abraço.

Anônimo disse...

Alline, você aí na Amazônia está num dos centros do combate para salvar o planeta. Muito obrigada pela visita e pelo comentário. Um abraço.

Anônimo disse...

Maria Augusta, recebi seu recadinho e já o respondi. Também comentei no post do Afonso, lá no Faça a sua parte, sobre este seu aqui. Gostaria de convidá-la para fazer parte dos colaboradores do blog. Desta forma, voce poderia postar lá também, o que acha?
O post está ótimo, e peço autorizaçao para postá-lo no Faça a sua parte, com o link pra cá, posso?
beijo,menina

Anônimo disse...

Denise, aceito com muita honra de participar ao "Faça sua parte", muito obrigada pelo convite. Claro que você pode postá-lo lá também, estes temas sobre meio ambiente, quanto mais divulgamos melhor é. Um beijo grande.

Anônimo disse...

Entao vou te mandar um email com as dicas todas.Assim, voce mesma faz o post, tá. Daqui a pouco olha o seu email.
beijo, menina

Anônimo disse...

Muita coisa que eu não sabia! Aprendi bastante com o seu post!!! Parabéns!
Bjos...ótima semana e muitas alegrias.

Anônimo disse...

Mércia, obrigada pela visita, um ótima semana para você também. Beijão.