terça-feira, 31 de julho de 2007

O Romance do Rio

Acabei de ler o livro "Le Roman de Rio" (O Romance do Rio), que foi publicado recentemente aqui na França, escrito pelo jornalista da revista l'Express Axel Gyldén, especialista da América Latina.


Este livro traça em rápidas pinceladas a história do Brasil desde o descobrimento até nossos dias, indo de Pedro Álvares Cabral a Lula, de Hans Staden (o alemão que ficou refém dos índios antropófagos) até Ivo Pitanguy.


O estilo é leve e de fácil leitura, os fatos são narrados sem análises ou julgamentos e as frases são impregnadas da amizade que o autor tem pelos brasileiros e por sua admiração pelo Rio de Janeiro. Quando ele conta a história da instalação da estátua do Cristo Redentor no alto do Corcovado, ou fala de Tom Jobim, Vinicius de Morais, João Gilberto, da Garota de Ipanema, dos enredos da escola de samba, dá até para sentir o calor carioca e o ruído das ondas do mar.


Para mim, valeu também para me fazer relembrar alguns fatos de nossa história e perceber alguns pontos interessantes. Por exemplo, a abolição da escravatura, a independência, a república, todas foram realizadas sem derramamento de sangue, o que mostra o caráter pacífico do povo brasileiro. Por outro lado, esses e outros acontecimentos marcantes ocorreram sem participação popular, sendo decididos pela classe dominante.


Se extrapolarmos isto aos dias de hoje, talvez tenhamos a explicação da distância que existe entre as expectativas do povo e as ações dos governantes. Acredito que já seria tempo do povo se manifestar mais, como foi o caso da passeata de protesto que aconteceu domingo último contra o caos aéreo (reportagem aqui), onde de forma organizada e pacífica cobraram-se soluções da parte dos governantes. E que o anseio expresso pelo cidadão do futuro simbolizado pelo garoto* da foto ao lado possa ser realizado.



*Thiago Leite do Canto (foto gentileza do blog Varal de Idéias)

 

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sexta-feira, 27 de julho de 2007

Villers d'Art



Villers d'Art é o nome de uma exposição de esculturas que está ocorrendo neste verão na cidade de Villers les Nancy. Esta cidade, satélite de Nancy também tem seu "village", o bairro antigo e charmoso, com suas ladeiras, sua igrejinha e seu lavoir. E tem também um castelinho com um belíssimo parque, chamado Madame de Graffigny. Ele foi rebatizado assim no Dia Internacional da Mulher em 2003, em homenagem a esta mulher que viveu no século das Luzes, autora das “Cartas de uma Peruana”, e que teve a audácia de abandonar um marido violento e existir por ela mesma, o que era uma proeza para a época. O castelinho atualmente pertence à municipalidade, que nele organiza reuniões e exposições, como é o caso desta em cartaz atualmente.

Trata-se de uma exposição reunindo 16 grandes nomes da escultura, franceses e estrangeiros. Para a ocasião eles trouxeram esculturas monumentais, que foram espalhadas pelo parque, e algumas menores, dos mesmos autores, apresentadas no interior do castelo. No total, são apresentadas em torno de 30 obras, de 18 a 800 Kg, em aço, resina, bronze, granito, inox, madeira, latão, pedra e mármore.

Os estilos são bastante variados, figurativos ou não. Alguns lembram obras literárias, outras de inspiração africana ou japonesa, algumas ultra-modernas com linhas simples e puras, outras tendo como tema a natureza. Desta vez não direi quais foram as minhas preferidas, me contento de mostrá-las a vocês no diaporama abaixo. Antes de deixá-los apreciar as esculturas, só gostaria de acrescentar que a entrada na exposição é completamente gratuita e que quase todas as obras expostas podem ser compradas, os preços variando entre 700 e 25000 euros.


CLIQUE NA FOTO ABAIXO PARA VER AS ESCULTURAS


Links para descobrir os artistas :

Vincent Batbedat
Adrienne Jalbert
José Subira Puig
Patrick Hervelin
Robert Fachard
Philippe Gourier
Elisabeth Cibot
Denis Monfleur
Tetsuo Harada
Dietrich-Mohr
Serge Sangan
Angel-Peres
Zorko


quinta-feira, 26 de julho de 2007

Contra o Caos Aéreo



Seguindo a sugestão do "Varal de Idéias", estou transcrevendo aqui esta convocação, esperando que a adesão a estes atos de protesto seja a maior possível.

1


Convocação para uma
caminhada neste domingo
(29/07/2007
).





VAMOS DIVULGAR, PARTICIPAR E REALIZAR.



A SOCIEDADE BRASILEIRA EXIGE RESPEITO !





Inaceitável, inaceitável, inaceitável.Mais de 10 meses de caos aéreo. Mais de 350 vítimas fatais! Desrespeito, leniência, ganância e corrupção.




Convocamos TODA A SOCIEDADE para uma caminhada até o local do acidenteda aeronave TAM 3054 neste próximo domingo, às 9 horas, partindo do Monumento às Bandeiras. Esta mobilização tem como objetivos apoiar as famílias que perderam seus parentes em acidentes aéreos, homenagear os nossos bombeiros, recrutar todos os brasileiros para participarem de um amplo movimento nacional pela Segurança Aérea e inibir os abusos a que estamos sendo submetidos.Exigimos RESPEITO e soluções IMEDIATAS por parte do nosso Governo.Os culpados devem ser imediatamente afastados e punidos exemplarmente.Basta de passividade e tolerância.



É HORA DE AGIR !


(DIVULGUE ESTA INICIATIVA)


INFORMAÇÕES:Data: 29 de julho (Domingo).


Horário: 9horas


Roteiro: SÃO PAULO - Saída: Monumento das Bandeiras (em frente ao Parque Ibirapuera); segue em direção àAv. República do Líbano; Av.Indianópolis; Av. Moreira Guimarães até aAv. Washington Luís, em frente aoTerminal de Cargas da TAM EXPRESS.

Sugestão:
Levar flores em homenagem às vítimas do acidente e vestir uma peça preta (simbolizar luto).



INICIATIVA :ABRAPAVAA (Assoc. Brasil. Parentes Amigos de Vitimas de Acidente Aereos) -Sandra Assali CRIA Brasil (Cidadão, Responsável,Informado e Atuante) - Marcio NeubauerCampanha Rir para não Chorar - Sergio Morisson Casa do Zezinho - Dagmar Garroux Fundação SOS Mata Atlântica - Mário Mantovani Intituto Brasil Verdade - Rogério Ruschel Instituto Rukha - Marcelo LoureiroNossa São Paulo Outra Cidade - Oded GrajewRoberta mailto:Suplicyroberta@rsuplicy.com


2



NO/FLY DAY (18 de Agosto)
-- um ato de protesto contra o descaso aéreo




O Objetivo do NO/FLY DAY éfazer um ato de protesto da população (um ato pacífico e a partidário) contra aincompetência do governo federal / agências/ empresas aéreas para dar uma solução ao problema aéreo que já vem dando claros sinais de colapso muito antes do acidente da GOL e, depois de nada feito, culminando com o acidente da TAM dia 17/7.

Este ato de protesto será um dia "greve de passageiros" em todo o Brasil ­

NO/FLY DAY (18 de Agosto).




Com isso mostraremos aos governantes e responsáveis por este caos que o público não é bobo e sabe se organizar. Em São Paulo,faremos uma passeata do Ibirapuera a Congonhas em homenagem às vítimas.

Esse protesto é uma forma da população dar uma demonstração organizada e forte sobre o absurdo que estamos vivendo: as empresas aéreas não fazem nada por terem interesses econômicos em jogo, as agências estão corrompidas e ineficientes, o Congresso Nacional atrapalhado e submisso, e o GovernoFederal apático e inábil. E nós, os usuários do sistema, temos como única forma de protesto gritar nos balcões das empresas aéreas (o que nada resolve) e colocar notas / cartas nas colunas de leitores dos jornais.


Se Você é mora fora da Capital (SP)

Faça um ato de protesto nesse dia e não viaje de avião.
Convença um amigo ouparente a fazer o mesmo, e diga a ele/ela para convencer o próximo.

Se Você mora na Capital(SP)

Além de não voar nesse dia venha ao obelisco doIbirapuera Sábado, 18 de Agosto, as 16hrs. As 17 hrs iniciaremos uma marcha pela WashingtonLuis até a cabeceira da pista de Congonhas, local do acidente da TAM. Venha de camiseta branca. Lá prestaremos uma homenagem às vítimas dos vôos TAM 3054 e GOL 1907.


Como Ajudar Mais

Envie este site e notícia a algum amigo e peça que ele faça o mesmo.

www.noflyday.com.br

terça-feira, 24 de julho de 2007

O Profeta



á alguns anos me encontrei no meio de um grupo de pessoas que se interessavam à tecnologia Internet, na época em grande atraso aqui na França. Neste grupo, havia pessoas de várias origens e de diferentes profissões. Havia engenheiros, massagistas, informáticos, professores de letras, administradores de empresas e até filósofos. Diante de tanta diversidade, as conversas eram sempre animadas e interessantes. E foi em uma destas conversas que pela primeira vez ouvi um trecho do livro "O Profeta", de Khalil Gibran. Vendo meu interesse por aqueles versos plenos de sabedoria e poesia, no dia seguinte um colega chegou com o livro e me disse : "Não precisa devolvê-lo, leia-o e guarde-o para você ou passe-o a alguém que você acha que tem a sensibilidade para apreciá-lo". E assim foi, com o tempo esse grupo se dissolveu mas guardei o livro e mantive a tradição. Eu o ofereci a alguém que gostava de filosofia e poesia. Claro que gostaria de oferecê-lo também a cada um dos meus amigos virtuais, mas como seria meio complicado, transcrevo aqui alguns dos mes trechos preferidos.

Sobre o amor :

uando o amor vier ter convosco,

Segui-o, embora os seus caminhos sejam árduos e sinuosos.

E quando as suas asas vos envolverem, abraçai-o, embora a espada oculta sob as asas vos possa ferir.

Sobre a amizade :

vosso amigo é a resposta às vossas necessidades.

Ele é o campo que cultivais com amor e colheis com gratidão.

E é o vosso apoio e o vosso abrigo.

Quando vos separais de um amigo não fiqueis em dor, pois aquilo que mais amais nele tornar-se-à mais claro com a sua ausência, tal como a montanha, para quem a escala, é mais nítida vista da planície.

Sobre a liberdade :

ereis verdadeiramente livres não quando os vossos dias não tiverem umapreocupação nem as vossas noites necessidades ou mágoas.

Mas quando estas coisas rodearem a vossa vida e vós vos ergais acima delas, despidos e libertos.

Sobre os filhos :

ós sois os arcos de onde os vossos filhos, quais flechas vivas, serão lançados.

O arqueiro vê o sinal no caminho do infinito e Ele com o Seu poder faz com que as Suas flechas partam rápidas e cheguem longe.

Sobre o auto-conhecimento :

ão digais "Encontrei a verdade", mas antes "Encontrei uma verdade."

Não digais "Encontrei o caminho para a alma", mas antes "Encontrei a alma ao seguir o meu caminho''.

Sobre a conversa :

ós falais quando deixais de estar em paz com os vossos pensamentos, e quando já não conseguis lidar com a solidão do vosso coração, viveis com os lábios e o som é uma diversão e um passatempo.

E, em muita da vossa conversa, o pensamento fica amordaçado.

Pois o pensamento é um pássaro do espaço que numa gaiola de palavras pode abrir as asas mas não pode voar.


Khalil Gibran nasceu no norte do Libano e viveu nos Estados Unidos e também na França. Sua obra é abundante e traduzida em 40 idiomas, sendo que seu livro mais conhecido é "O Profeta".
 
 

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Cores, Odores e Sabores


Todo mundo sabe que aqui na França a gastronomia é coisa sagrada. Os cozinheiros ganham concursos e prêmios e são tão famosos quanto as estrelas do cinema ou do show business. Mas esta adoração pelos alimentos já começa na escolha dos produtos, e os melhores são encontrados nas feiras. E aqui pertinho, a um quarteirão de casa, temos aos domingos uma das melhores feiras da região.

Quando a gente vai se aproximando, já vai sentindo os odores : eles vem dos temperos e condimentos de todas origens, ou das lingüiças (de asno, de avestruz, de veado, com frutas, nozes ou azeitonas) ou ainda dos tachos fumegantes de paëlla, cuscuz ou tartiflette, que são feitos ali na hora. E tem também as cores : além dos frutos e legumes que parecem que foram encerados de tão brilhantes, tem também as flores. O interessante é que além das flores tradicionais que encontramos nos floristas, tem também as flores simples, por exemplo é o único lugar onde posso comprar margaridas.

Tem os frutos que são exóticos para eles como manga, mamão, carambola, pode? Custam caríssimo! E tem também os produtos que são exóticos para mim, como as várias espécies de champignons, que são vendidos em cestinhas que parecem embaladas para presente. Mas destes sempre desconfio, há algumas espécies que são venenosas, é preciso conhecer bem. Também acho exóticos os legumes antigos (foto à esquerda), manchados e tortinhos, que não são mais produzidos pela agricultura tradicional, mas algumas chácaras ainda cultivam e vem vender na feira.

Queijos também tem bastante, dizem que existe um tipo de queijo para cada dia do ano. Em todo caso tem pelo menos dois ou três para cada região, sem falar dos italianos, suíços, holandeses...O mais difícil quando ainda nos os conhecemos é saber se podemos comê-los com a casca ou não...e também que entre os mais "mal cheirosos" é que estão os mais gostosos.

Nesta feira são vendidos também roupas, CDs, perfumes, acessórios de costura. Mas em relação às feiras brasileiras faltam duas coisas essenciais : a primeira é a gritaria dos vendedores para atrair a atenção dos fregueses ou para fazer piadinhas sobre as moças bonitas que passam. E a segunda é que não tem nenhuma banca de pastel(sniff, sniff)...e isto é imperdoável!



terça-feira, 17 de julho de 2007

Caminhando



Finalmente o sol de verão apareceu na França...foi como um presente para o dia da festa nacional, o 14 de julho. Fora os fogos de artifício, não vi muito das comemorações, embora saiba que elas foram animadas, talvez por causa da volta do tempo bom, talvez devido à esperança que reina no início de cada novo governo.

Aproveitei as manhãs para caminhar, gosto de andar nas encostas que rodeiam a cidade. É unir o útil ao agradável, pois já cheguei a perder 5 kg em um mês, só subindo estas ladeiras...E um dos meus passeios a pé favoritos é aqui pertinho de casa, num cantinho que se chama "Vandoeuvre Village". Ele fica meio isolado da agitação da cidade, protegido pela sua própria geografia, pois com sua subida íngreme parece desencorajar muitos de ir até lá, mesmo o progresso e a "civilização".

Chegando ao pé da ladeira já começamos a nos encantar. O casario baixo com flores nas janelas, os lampadários que ladeiam a rua. Começamos a subir e as surpresas vão aparecendo...primeiro um "lavoir" (foto à esquerda), que é uma espécie de tanque coletivo onde as mulheres iam lavar roupa no passado. Ele está lá, em perfeito estado, mas com os dizeres "Agua não potável". Claro que atualmente ele é puramente decorativo, com vasos de flores pendurados ao redor.

Subimos mais um pouco (ai, ai, a subida é dura!) nos deparamos com um "abreuvoir" (foto à direita). É um ponto d'água onde os cavalos vinham matar a sede antigamente. Agora ele foi reciclado em fonte e também enfeitado com vasos de flores. Muito charmoso!

Mais acima na ladeira, encontramos uma igrejinha (foto à esquerda). Imaginem que ela foi construída em 930! A estátua de um dos santos padroeiros, Saint Melaine, data do século XV. Ela contem várias outras imagens e belos vitrais que são patrimônios históricos, de tão antigos.

A esta altura da subida, as pernas já pedem socorro, o fôlego já desapareceu. Se a coragem ainda permite, subimos até o topo, onde se encontra um parque de pinheiros. Mas se não dá mais, o jeito é "sair pela tangente" por uma das transversais, que também são pitorescas, em uma delas está indicada uma antiga mina que enviou ferro para a construção da torre Eiffel. E depois, "rolar" ladeira abaixo, de volta à agitação da cidade.

O que mais me agrada neste passeio é o ambiente de vila que reina neste canto da cidade. As pessoas que cruzamos, embora desconhecidas, sempre nos sorriem, cumprimentam e às vezes até puxam um dedinho de prosa : "Que dia bonito, não, madame"? "Vou comprar pão, será que a padaria está cheia?" E isto não tem preço, é raríssimo tanto nos outros bairros de Nancy, como em outras cidades que conheço.


Este village apaixonou muitos artistas. As fotos destes post são reproduções obtidas no livro "Vandoeuvre Coup de Coeur" (de Danièle Verdenal-Joux) dos seguintes quadros inspirados nele :

Aquarela "Le village en 1920" - Léon Husson
Nanquim "A descida vertiginosa da rua Pasteur" - René Haguenauer
Aquarela "Le Lavoir au Tonneau" - Christiane Colin
Pintura "A casa, rue Pasteur, onde viveu Eugénie Bergé - Eliane Ragot
Aquarela "Uma esquina da rua Pasteur - Jean-Louis Zimmermann



sexta-feira, 13 de julho de 2007

Um Pouco de Ternura...



Há algum tempo, li o livro "Ensemble, c'est tout" (Enfim juntos na versão brasileira), graças à amiga blogueira Teresa, do "La vie est belle". Não comentei aqui na ocasião, pois pretendia ir ver o filme, e acabei por não fazê-lo, sempre me decepciono quando vejo os filmes realizados a partir de livros que li. Mas não poderia deixar de recomendá-lo, pois é um lindo poema de amor e de esperança.

É a história de 4 pessoas completamente diferentes. Uma desenhista, que não consegue mais desenhar e que trabalha como faxineira, um aristocrata gago e alienado, um cozinheiro rebelde e resmungão e uma velhinha em fim de vida. Quatro pessoas completamente diferentes, com passados duros e carregados, um presente insípido e sem esperanças tendo como pontos comuns somente a solidão e um grande coração.

Difícil de não se identificar com algumas facetas dos personagens ou reconhecer algumas situações : a jovem magérrima, que fala pouco e se exprime por desenhos. Ou o rapaz super-tímido que gagueja quando se depara com situações estressantes e que se libera somente quando se apresenta em um palco. Ou o cozinheiro mulherengo e resmungão que faz "malabarismos" para conciliar sua vida profissional, sua vida pessoal e a assistência que ele da à sua avó idosa, que o "vampiriza" cada vez mais. E que é justamente o quarto personagem da história, uma velhinha teimosa que vê suas capacidades declinarem a cada dia, e que se agarra ao neto como a uma tábua de salvação. Enfim, quatro pessoas que estão de mal com eles mesmos e com a vida. Até que as circunstâncias os levam a se aproximar sob o mesmo teto em uma situação provisória e frágil ...e a magia opera, a partir deste momento tudo muda.

Cada um deles ajuda a outro a enfrentar seus problemas e desenvolver suas potencialidades : o cozinheiro prepara os pratos para ajudar a desenhista a recuperar seu peso normal; esta, para seu trabalho de faxineira e passa a trabalhar como "auxiliar de vida para pessoas idosas" cuidando assim da velhinha que pode sair do asilo e ficar ao lado do neto. Ao mesmo tempo ela recupera o prazer de desenhar, e é convidada a expor seu trabalho. Os três incentivam o aristocrata gago a superar seus bloqueios e subir ao palco, onde ele encontra sua realização. Enfim, partindo do nada, simplesmente com suas carências e problemas, o simples fato de estarem juntos e se interessarem uns pelos outros trouxe um sentido à vida de cada um e permitiu a realização de seus sonhos. "É o contrário da história do dominó. Colocados lado a lado, ao invés de se derrubarem uns aos outros, eles se ajudam mutuamente a se recolocarem de pé", como diz a contracapa do livro.

O final é meio hollywoodiano, do tipo "o dinheiro cai do céu" e "foram felizes para sempre". Teria sido mais realista se cada um retomasse seu caminho, mais forte, porém individualmente, pois as diferenças entre eles eram gritantes. E uma situação destas, é muito perfeita para ser duradoura, embora por menos tempo que dure já vale por toda uma vida...mas é tão bom ver um final feliz!


Cenas do filme baseado no livro "Ensemble, c'est tout"
com Audrey Tautou, Guillaume Canet, Laurent Stocker e Françoise Bertin
©Etienne George


E como hoje o assunto são os livros, respondendo ao convite do Eduardo do Varal de Idéias, relaciono aqui os 5 livros que li ultimamente :

- Enfim juntos - Anna Gavalda

- A Peste e a Orgia - Giuliano da Empoli - o mundo inteiro estaria adotando um comportamento "brasileiro" onde o medo e o "carnaval" caminham juntos. Reflete a imagem do Brasil sob o ponto de vista europeu. Toca nos pontos sensíveis de nossa sociedade, onde os fatos são reais, mas as causas que ele apresenta são discutíveis (post
aqui).

- A Probabilidade de uma Ilha -
Michel Houllebecq - os males da vida moderna como as seitas, o racismo, a clonagem e seus resultados sobre as futuras gerações. Cínico e polêmico, não leia se estiver deprimido


- A Viagem de Théo - Cathérine Clément - um garoto doente percorre o mundo buscando se curar em contato com as diferentes religiões, traçando um paralelo singelo entre elas. Terno e instrutivo.


- René Lalique - Patricia Bayer & Mark Waller - fotos e explicação técnica da obra de Lalique. Lindíssimo.


Não farei convites nominais para a continuação deste même, mas os que desejarem fazê-lo, fiquem à vontade e me avisem, que colocarei um link aqui.

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terça-feira, 10 de julho de 2007

O Jardim de Cristal


Um jardim já é algo de belo por ele mesmo. Os cristais também, toda aquela transparência brincando com a luz sugerindo as formas dadas pelo artista ou pelo artesão. Agora imagine os dois juntos...um jardim de cristal! Pois este foi o tema de uma exposição que visitei domingo passado na cidade de Pont-à-Mousson, perto de Nancy.

Esta cidade tem como atração principal a Abadia dos Prémontrés, uma antiga morada dos monges da ordem do mesmo nome, que data do século XVII. Atualmente nela se realizam exposições principalmente de arte contemporânea, e devo admitir que todas as que visitei não me decepcionaram. Esta, por exemplo, faz parte das comemorações de “Luxemburgo capital européia da cultura 2007”, cujos eventos se estendem pelos países vizinhos, como a França, a Alemanha e a Bélgica.

A exposição já começou há mais de um mês, mas pelo fato de ser no jardim, é melhor visitá-la com tempo bom, e este ano, desde o mês de maio até agora só tem chovido. Aliás, como as obras são expostas ao ar livre, eles temem mesmo que se houver uma chuva de pedras elas sejam destruídas. Domingo passado, fomos até lá "entre 2 gotas de chuva", como eles dizem aqui, aproveitando algumas horas de estiagem.

Para compor esta exposição, foram convidados cinco grandes nomes da cristaleria francesa : Lalique, Daum, Baccarat, Saint-Louis e Val Saint Lambert. As obras foram distribuídas em cinco canteiros, sendo que quatro rodeavam um central. O tema foi dado pelo designer Vincent Dupont-Rougier e declinado livremente pelos criadores das cristalerias.

O canteiro central foi decorado pela cristaleria Val Saint Lambert, que apresentou uma mesa circular cheia de candelabros, de várias cores e formas.

Lalique, escolheu como tema o "Jardim do Eden" e diga-se de passagem, lembrava mesmo um paraíso. Com cisnes e peixes de cristal nadando em um lago, pássaros de cristal pousados sobre a cerca, por um lado. Do outro, ele misturou cactos de cristal aos cactos naturais, dando um efeito muito bonito.
Daum escolheu um tema mais surrealista, com inspiração oriental, pousando várias cabeças de Buda e pássaros exóticos em "massa de cristal" no meio de uma vegetação luxuriante.

Baccarat usou como tema "Alice no País das Maravilhas", com um enorme lustre em forma de cascata e roseiras cujas flores eram cálices de cor púrpura.

Saint-Louis, a cristaleria dos reis da França, lembrou o pomar de Maria Antonieta no castelo de Versalhes, com a eclosão de flores de cristal cercadas por copos verdes simulando o arbusto que delimitava o canteiro.

Tudo muito bonito. Se tivesse que criticar alguma coisa, diria que a superfície coberta pelos jardins de cristal era pequena em relação à do jardim da abadia, o que deixava as composições meio soltas naquele gramado imenso. E se tivesse que escolher entre os cinco jardins apresentados, o meu preferido seria o de Lalique, com os cisnes e os pássaros e os peixes e os cactus. Bonito demais! Em seguida, viria o de Saint-Louis, cuja cor predominante era o verde e dava uma continuidade ao gramado de uma forma muito harmoniosa. Pena que a exposição fecha às 18 horas o que no verão ainda é pleno dia, ela deve ser lindíssima à noite, sob a luz dos refletores. Talvez ainda volte lá para tirar mais fotos, porque realmente esta exposição merece.





sexta-feira, 6 de julho de 2007

O Jardin e a Blogosfera

Agradeço convite recebido para integrar a equipe do importante blog “Faça a Sua Parte”, que participa ativamente do combate contra o aquecimento global e pela preservação do meio ambiente. Para mim, é uma grande honra e um grande prazer.

Recebemos e agradecemos a indicação dada pela maravilhosa poetisa e escritora Lunna, do blog “Lenta Composição” uma indicação para o concurso “As 7 Maravilhas da Blogosfera”. Obrigada de coração, Lunna!

E agora, a convite da Sam, do blog "Atualidades sob os olhos de mãe, jornalista e cidadã", que nos passou este meme vamos abrir o portão do “Jardin Ephémère” e sair às ruas, para falar da violência e da impunidade.

Acredito que a origem deste meme foi o caso da empregada doméstica agredida no Rio de Janeiro, cujos ecos recebi aqui pela Internet. Um acontecimento inadmissível, com o agravante de que os agressores eram oriundos da alta classe média, portanto receberam tudo de melhor que se pode oferecer em termos de conforto e educação. E a sociedade brasileira teme que, devido à situação de suas famílias, este crime seja banalizado, diante de outros casos de impunidade ocorridos nas “altas esferas” da sociedade e do poder.

Não que seja um consolo, mas este problema de impunidade não é uma exclusividade brasileira...aqui na França também esta palavra tem aparecido freqüentemente nos noticiários e por várias razões.

Por exemplo, o que repercute nos jornais no momento é a “guerrilha” entre os policiais e os jovens das gangs que semeiam a desordem e o medo nos bairros das periferias das cidades na mais completa impunidade. Por outro lado, ouvem-se também queixas sobre a impunidades dos policiais que cometem excessos no cumprimento do dever. Existe a impunidade dos pais, que não educam seus filhos corretamente, criando uma verdadeira geração de “enfants-roi” sem valores, que não conhecem limites e que pensam que tem direito a tudo. E na impunidade destes jovens que agridem professores e colegas nas escolas sem que nada possa ser feito para impedi-los porque são menores. Também na impunidade da violência no próprio seio familiar, onde existem agressões contra as crianças e as mulheres, e poucos ousam denunciar. Aqui fala-se também na impunidade no caso dos “crimes do colarinho branco”, onde as correções e punições são sujeitas aos interesses políticos do momento. E na impunidade da própria justiça, que no caso de erros judiciários comprovados, não pune devidamente os magistrados que cometeram negligências no exercício de suas funções. Ou a impunidade dos médicos que cometeram erros com conseqüências graves, os quais são quase impossíveis de serem comprovados de tal forma a comunidade médica se auto-protege.
Pois é, o leque de denúncias contra os casos de impunidade é grande também nos países ditos do “Primeiro Mundo”. Acredito que uma das causas seja uma falta de agilidade nos sistemas judiciários que permita que as leis evoluam ao mesmo tempo que os novos problemas que surgem na sociedade. Mas em qualquer país, em qualquer escala e independente do status social, um delito deve ser punido e justiça deve ser feita. E se esta não for assegurada pelos poderes públicos, podem acontecer derivas e as pessoas serem tentadas a fazer justiça pelas próprias mãos.

Notícia de última hora : Estava acabando de escrever este post quando ouvi na televisão a nova Ministra da Justiça Rachida Dati anunciar seu primeiro projeto de lei apresentado hoje ao Senado, no qual ela estabelece que os menores com 16 anos ou mais que cometam crimes repetidos serão julgados como maiores.

Não farei convites nominais, mas os que desejarem escrever sobre este meme tão importante podem me avisar que colocarei um link aqui .

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terça-feira, 3 de julho de 2007

A Brocante 1900


Quando cheguei aqui na Europa uma coisa que não conseguia entender era a paixão das pessoas pelas brocantes. Quando eu via todas aquelas pessoas comprando aquelas "coisas velhas", pensava que eles queriam apenas fazer economia comprando de segunda mão para não ter que pagar o preço das novas. Porque tem as antiguidades, e tem também as coisas velhas mesmo, pois "vide-grenier" (esvazia celeiro), quer dizer aquelas roupas que não queremos mais, louças usadas, livros, discos, cartões postais, moedas antigas, velhos cartazes de filme, enfim tudo que se possa imaginar e de qualquer época.

Comecei a entender o espírito dessas feiras quando conheci minha amiga Aline. Ela, sua paixão são as brocantes. Durante a temporada destas, seus fins de semana são dedicados a percorrer as estradas simplesmente para visitá-las nos vilarejos da região, ou também para expor e vender. Ela me mostrou com orgulho sua casa, cheia de objetos antigos comprados em brocantes e restaurados, o que faz um bonito contraste com o "loft" ultramoderno onde ela mora.

Aline me explicou também que para comprar nas brocantes existe todo um ritual. Primeiro mandamento, você tem que chegar bem cedo, os "entendidos", como é o caso dos colecionadores passam bem cedinho à procura das "pérolas raras" que faltam em suas coleções. Segundo, você tem que pechinchar...não se deve nunca pagar o primeiro preço proposto pelo vendedor. E terceiro deve-se garimpar, "fuçar" em tudo, pois aquela jovenzinha que vende a tranqueira que ela achou no celeiro da avó, pode estar vendendo objetos preciosíssimos sem saber. Foi assim que ela comprou um jogo de facas por uma bagatela, que após avaliação descobriu que eram de Majorelle (logo valiam uma fortuna), e que estavam em um um canto no meio de um monte de gibis velhos. E por falar de gibis, ela achou também uma edição histórica do Tintin, que estava misturada a outros sem maior interesse.

Pois domingo passado foi a brocante do Parc Sainte-Marie, a maior de Nancy. Ela se chama "Brocante 1900", porque neste parque foi realizada a exposição universal de 1909, e ele, assim como todo o bairro, data desta época, na qual a cidade conheceu o seu apogeu cultural com a "art nouveau". Este ano, como o tempo estava feio e chuvoso, pensei que não teria muita gente. Puro engano, foi a maior dificuldade para se aproximar das barraquinhas. Levei pouco dinheiro, não levei talão de cheques, assim é mais facil resistir à tentação. Comprei somente um lampiãozinho a óleo para enfeitar meu banheiro...custava 1 euro, tão barato que nem precisei pechinchar. Voltei para casa super contente com a minha compra.

Hoje vejo as brocantes com um outro olhar. Além da parte lúdica do "garimpo" de coisas interessantes, da possibilidade de achar coisas boas e baratas de segunda mão, tem também o lado "reciclagem". Talvez este não seja o principal objetivo das pessoas que vendem, mas nesta nova era de economia de matérias primas, um objeto que não vai para o lixo representa um ganho para o meio ambiente. Acho que fomos a última geração que pôde se dar ao luxo de usar e abusar dos "descartáveis".