No final de semana passado aconteceu aqui em Nancy um dos eventos do calendário cultural que é um dos meus preferidos : a abertura dos ateliês dos artistas locais ao público, que acontece de dois em dois anos. Nunca perdi um desde que cheguei aqui.
O interessante desta manifestação é a informalidade, nada a ver com uma exposição em uma galeria de arte : entra-se e vê-se os quadros, as esculturas, as maquetes de arquitetura, os álbuns de fotografias em cima da cama, em cima do fogão, dentro das garagens, entre as plantas do jardim, no fundo do quintal, pois muitos ateliês são na própria moradia do artista, que convida 2 ou 3 colegas para expor ao mesmo tempo. Os autores, em geral bastante jovens, sempre presentes e disponíveis, adoram explicar tintim por tintim os detalhes que os levaram à concepção das obras.
Como não tinha muito tempo, limitei minhas visitas ao perímetro em torno do Parque Sainte-Marie, não muito longe de casa, onde existem belas construções no estilo art nouveau. Se que é meio paradoxal ir ver a arte contemporânea em um bairro art nouveau, mas é um canto muito agradável da cidade.
Entre as coisas que me chamaram a atenção este ano, está a obra de uma jovem escultora, Aurélie Charles, que trabalha com a terra e o bronze. Uma de suas esculturas em terra, representava uma mão que atravessa uma moldura de um quadro como procurando alguma coisa "do outro lado". Nos detalhes da mão, viam-se as saliências das veias, a rigidez dos músculos, os detalhes das unhas. E a cor da terra era meio avermelhada, lembrando uma pele bronzeada pelo sol de verão. "Foi feita com a terra de Provence", ela me explicou. E o que significa a obra? "Uma travessia rumo a um outro universo" disse a autora. Me fez lembrar do "Espelho Mágico" do blog cult "La Vie est Belle!".
Um outro artista com o qual conversei longamente foi um jovem desenhista, Matthieu Exposito, cuja série apresentada chamava-se : “Em torno de um copo”. Ele me explicou com entusiasmo seu modo de trabalhar : em Paris, onde mora, ele sai de casa com seu material, entra em um bar e vai desenhando o que vê em torno dele : pessoas conversando, bebendo, lendo...as imagens eram muito expressivas e meio caricaturais.
No mais, vi belas fotografias, uma obra de pintura original, onde paisagens vastíssimas eram reproduzidas em quadrinhos de aproximadamente 15x10 cm. Por outro lado, vi também uma instalação dentro de um quarto escuro na qual não entendi absolutamente nada, só pensei “Com tanto material, como se pode fazer um negócio tão esquisito?”
Depois das visitas, a impressão geral confirmou minha opinião sobre a arte comtemporânea : nesta não existem fronteiras, o limite entre o que é e o que não é artistico é tênue, e é isso que a torna fascinante e surpreendente.
▲ Alto da Página ▲