
No Dia Mundial da Terra assumi um compromisso com o Movimento "Faça a Sua Parte" em relação à uma ação individual colaborando no combate ao problema climático que enfrenta nosso planeta. Nesta ocasião, prometi divulgar projetos encontrados na imprensa científica internacional relativos a este assunto. Este post é uma colaboração neste sentido.
O biocombustível está na pauta de todas as discussões sobre a matriz energética atualmente e é considerado como o sucessor do petróleo para o transporte. Em todos os países as plantações de cana de açúcar, e das oleaginosas em geral, como o girassol, a colza, a soja se estendem para fornecer a matéria prima do "combustível do futuro".
No entanto, os defensores do meio ambiente já apontam vários problemas que poderiam ser acarretados por sua produção em massa (veja também o post "Etanol" do Faça a Sua Parte") :
- problemas de biodiversidade, pois trata-se de uma monocultura,
- degradação do meio ambiente, pela utilização de adubos e pesticidas
- utilização de grandes extensões de terra, que poderiam ser usadas para a plantação de alimentos, sem falar nos riscos de deflorestação
- alto consumo de energia para a sua produção
Diante destas restrições, uma nova fonte potencial de biocombustíveis vem sendo estudada com o objetivo de fornecer o biodiesel para os transportes : as microalgas. Estas, sob condições de estresse, produzem de 20% a 80% de seu peso seco em ácidos graxos (dependendo da espécie), que é a matéria prima do óleo combustível. Para sua multiplicação (por divisão...) elas necessitam somente de luz do sol, água (que pode ser a água do mar), sais inorgânicos (de fósforo, de nitrogênio) e pasmem, de CO2. Sim, para se reproduzir elas precisam consumir CO2, um dos gases responsáveis pelo efeito estufa. Além de ser um recurso renovável e biodegradável, seu rendimento em óleo combustível por hectare é 30 vezes superior ao das culturas das plantas oleaginosas.
Fonte : Relatório NREL/TP-580-24190
Elas também podem ser obtidas em bioreatores, os quais são formados de tubos transparentes enrolados em espiral (foto acima)de forma a deixar a maior superfície possível exposta à luz. O elemento nutritivo principal, que é o CO2, pode ser fornecido pelas fumaças das chaminés das centrais elétricas, próximos das quais os bioreatores serão localizados. Desta forma, além de se constituir na matéria prima para a produção do biodiesel, elas contribuem também à reciclagem do CO2, que é um dos responsáveis pelo efeito estufa. Em seguida, as algas produzidas são "colhidas" e concentradas, o oleo é extraído e transformado em biodiesel.
Painéis solares produtores de algas já vendidos na Espanha e na África do Sul
Um problema ainda é o preço, dados de 1998 calculavam que o barril de biodiesel produzido a partir das microalgas saía por 100 dólares, logo melhoras são necessárias para torná-lo competitivo. E não faltam esforços neste sentido. Países como a Suíça, a Alemanha, Israel, a África do Sul, a Argentina, Portugal, já estudam esta alternativa energética, sendo que os Estados Unidos realizam estudos sobre elas desde os anos 50, estudos estes que se aceleraram com a crise do petróleo da década de 70. A França, criou o consórcio Shamash, em dezembro de 2006, reunindo vários laboratórios de pesquisa visando melhorar cada fase do processo, de modo a reduzir os custos respeitando os critérios do desenvolvimento sustentável.
O Brasil aposta no etanol como biocombustível. No entanto, diante dos problemas colaterais de sua produção em grande escala citados acima, seria interessante para o país diversificar suas possibilidades de produção de combustíveis para o transporte. Tive conhecimento que a COPPE/UFRJ do Rio, viabilizou um processo para a obtenção de biodiesel a partir do tratamento do lixo e dos esgotos. No entanto, sua produção a partir de microalgas embora conhecida, ainda não dispõe de iniciativas concretas. Paulo Suarez, da Universidade de Brasília, declarou recentemente (20/05/07) "está ficando claro para mim que as algas são uma alternativa concreta de fonte de matéria-prima para aprodução de biodiesel. Acredito que está na hora de colocarmos essa alternativa na nossa pauta e iniciar a desenvolver tecnologia adaptada ao nosso país, sob o risco de haver no futuro próximo uma perda completa de competitividade do biodiesel produzido pelas culturas tradicionais".
Para saber mais :
A Look Back at the U.S. Department of Energy’s Aquatic Species Program: Biodiesel from Algae
Modeling and Simulation of the Algae to Biodiesel Fuel Cycle
Biodiesel et microalgues
Microalga como matéria-prima para a produção de biodiesel
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