Vista de Châtel sur Moselle no fim do século XVI
(foto do site da Association du Vieux Châtel)
Quando era criança meu avô nos embalava com histórias de encantos e mistérios. Entre elas lembro-me vagamente da lenda da "Lagoa da Vila", um cavaleiro que vagava sedento por uma montanha e via subitamente uma janela se abrir na parede rochosa e uma linda moça lhe oferecer água e convidá-lo para entrar no seu castelo, que era no interior da montanha.
Lembrei-me desta história quando visitei na semana passada a cidade de Châtel sur Moselle, na região montanhosa dos Vosges. Não havia moça na janela, mas havia um castelo que foi enterrado, desaparecendo completamente durante séculos, e mesmo a memória de seu tamanho e de sua importância se perderam. Sobre ele foram construídas residências, um convento, até que há 30 anos um casal de historiadores resolveu investigar a extensão daqueles vestígios de paredes que afloravam aqui e ali na cidade. E, removendo 140000 toneladas de terra, descobriram o castelo fortificado ocupando uma área de 5 hectares, com 22 torres, 3 andares de galerias, ponte levadiça, armas, moedas e utensílios antigos, enfim tudo que constituía a vida cotidiana há mais de 400 anos atrás.
As pesquisas revelaram que este castelo começou a ser construído no século XI e recebeu anexos até o século XVI. Pelo fato dele se encontrar numa posição estratégica (próxima do cruzamento de 3 antigas rotas do Império Romano, depois uma região "tampão" entre a Lorena, a Borgonha e os outros estados que deram origem à Alemanha e Luxemburgo) o castelo-fortaleza foi alvo de múltiplos ataques e sitiado, mudando várias vezes de mãos, até que em 1671 o rei Luís XIV mandou destruí-lo. Vendo que seria muito caro fazê-lo desaparecer completamente com canhões, obrigou a população local a enterrá-lo sob a ameaça de armas.
Recentemente o que sobrou do castelo foi declarado patrimônio histórico e qualquer construção na área foi proibida para protegê-lo. Os trabalhos de restauração são realizados por uma associação local com a ajuda de voluntários que vem do mundo inteiro.
Sempre fico impressionada vendo como os europeus valorizam sua história, pois como venho do Novo Mundo, aprecio mas sempre estranho um pouco este apego enorme que eles tem às coisas antigas. Mas eles devem ter razão, cultivar as raízes deve dar energia para seguir em frente...
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5 comentários:
E sem contar que todas essas ruinas faturam alto, e com o passar do tempo, se valorizam mais!O turismo é uma industria de futuro, com olho no passado. Abçs.
Verdade, Eduardo, e além do turismo, também cria empregos na área da construção, aqui os operários que sabem trabalhar "à moda antiga" são super-valorizados.
Não havia pensado nisso. É verdade!
Fascinante!
necessario verificar:)
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