terça-feira, 29 de maio de 2007

O Castelo Desaparecido


Vista de Châtel sur Moselle no fim do século XVI
(foto do site da Association du Vieux Châtel)

Quando era criança meu avô nos embalava com histórias de encantos e mistérios. Entre elas lembro-me vagamente da lenda da "Lagoa da Vila", um cavaleiro que vagava sedento por uma montanha e via subitamente uma janela se abrir na parede rochosa e uma linda moça lhe oferecer água e convidá-lo para entrar no seu castelo, que era no interior da montanha.

Lembrei-me desta história quando visitei na semana passada a cidade de Châtel sur Moselle, na região montanhosa dos Vosges. Não havia moça na janela, mas havia um castelo que foi enterrado, desaparecendo completamente durante séculos, e mesmo a memória de seu tamanho e de sua importância se perderam. Sobre ele foram construídas residências, um convento, até que há 30 anos um casal de historiadores resolveu investigar a extensão daqueles vestígios de paredes que afloravam aqui e ali na cidade. E, removendo 140000 toneladas de terra, descobriram o castelo fortificado ocupando uma área de 5 hectares, com 22 torres, 3 andares de galerias, ponte levadiça, armas, moedas e utensílios antigos, enfim tudo que constituía a vida cotidiana há mais de 400 anos atrás.

As pesquisas revelaram que este castelo começou a ser construído no século XI e recebeu anexos até o século XVI. Pelo fato dele se encontrar numa posição estratégica (próxima do cruzamento de 3 antigas rotas do Império Romano, depois uma região "tampão" entre a Lorena, a Borgonha e os outros estados que deram origem à Alemanha e Luxemburgo) o castelo-fortaleza foi alvo de múltiplos ataques e sitiado, mudando várias vezes de mãos, até que em 1671 o rei Luís XIV mandou destruí-lo. Vendo que seria muito caro fazê-lo desaparecer completamente com canhões, obrigou a população local a enterrá-lo sob a ameaça de armas.

Recentemente o que sobrou do castelo foi declarado patrimônio histórico e qualquer construção na área foi proibida para protegê-lo. Os trabalhos de restauração são realizados por uma associação local com a ajuda de voluntários que vem do mundo inteiro.

Sempre fico impressionada vendo como os europeus valorizam sua história, pois como venho do Novo Mundo, aprecio mas sempre estranho um pouco este apego enorme que eles tem às coisas antigas. Mas eles devem ter razão, cultivar as raízes deve dar energia para seguir em frente...






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sexta-feira, 25 de maio de 2007

E o mundo cantou em Nancy...


Na semana passado aconteceu aqui em Nancy o Festival "Voix du Monde" (Vozes do Mundo), na sua 14° edição. Para quem gosta de corais como é o meu caso é um prato cheio : são corais que vem do mundo inteiro e se apresentam nas igrejas, nas salas de espetáculos, nas ruas, nas praças. Tinha para todos os gostos : corais femininos, masculinos, mistos, alguns compostos só de crianças, outros misturando todas as idades.

Alguns combinaram canto e dança como os espanhóis e os peruanos, outros apresentaram músicas folclóricas como as finlandesas, alguns sérios cantando música sacra como as polonesas e as romenas, outros com números engraçados como os filipinos da Arábia Saudita (exatamente, o coral da Arábia Saudita era composto por filipinos radicados neste país). Desta vez, os que fizeram o maior sucesso foram os asiáticos, como os filipinos e os mongóis. Estes últimos com trajes suntuosos, proezas vocais inéditas (pelo menos para mim) como o canto "na garganta" e outros sons pouco conhecidos pelas nossas orelhas ocidentais.

O momento culminante foi mágico : todos os corais juntos, reunindo 1100 cantores num palco na linda Praça Stanislas toda iluminada com seus lampadários barrocos se refletindo nas fontes douradas, repleta de expectadores, num começo de noite magnífico com lua e tudo, cantando juntos a música "Chanter", num karaokê imenso, no qual o público foi convidado a participar. De arrepiar...

Os vídeos deste ano ainda não estão disponíveis mas pode-se ver um extrato da apresentação final de um dos grupos na Praça Stanislas em 2005 (o festival ocorre a cada dois anos) abaixo.
Se tiver problemas para acessá-lo tente o link direto aqui.




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terça-feira, 22 de maio de 2007

Compromisso pelo Meio Ambiente?


© Lucie Dumoulin-Minguet

Ontem, na primeira segunda-feira do mandato do novo presidente da França, foi organizada uma reunião entre ele, o Ministro do Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável, Energia e Transportes Alain Juppé, Nicolas Hulot (o "papa" da ecologia aqui na França) e nove ONGs, a saber,WWF, Greenpeace, Os Amigos da Terra,a Fundação Nicolas Hulot, a Liga de Proteção dos Pássaros (LPO), a Rede Ação Clima(RAC), a Liga pela Preservação da Fauna Selvagem e pela Defesa dos Não Caçadores(ROC), a Federação França Natureza Meio Ambiente (FNE) e Ecologia sem Fronteiras.

O objetivo desta reunião foi a preparação do encontro "Grenelle* do Meio Ambiente" que ocorrerá em setembro e outubro de 2007 e definirá a política a ser adotada pela França nos próximos 5 anos em relação à prevenção do aquecimento climático, à biodiversidade e à saúde. Segundo o presidente, os compromissos assumidos entre o governo, as coletividades territoriais, os sindicatos e as ONGs à ocasião deste evento deverão ser reavaliados anualmente. " A Grenelle do Meio Ambiente não será um enésimo colóquio para constatar a urgência ecológica e concluir que é necessário agir", afirmou o presidente, "será uma negociação de medidas concretas".

Nicolas Hulot e as ONGs saíram satisfeitos da reunião, embora alguns pontos de divergência bastante espinhosos como a política em relação à energia nuclear e os organismos modificados geneticamente tenham sido observados. "Os assuntos difíceis não devem ser evitados", disse o presidente.

Agora, a pergunta óbvia é : "Será que desta vez é para valer, o problema ecológico será tratado como prioritário pelo governo, em função do qual as outras decisões serão orientadas?". Alguns vêem na reunião de segunda-feira apenas um estratagema para conquistar os votos dos ecologistas já que as eleições legislativas se aproximam. Talvez, mas se funcionar, será um grande passo feito por um país importante na direção do combate ao problema climático.


*A palavra Grenelle faz referência aos acordos sociais de Grenelle que puseram fim às greves de 1968.




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domingo, 20 de maio de 2007

A Noite dos Museus


© Photo : Hugues Reip avec le soutien de Neuflize Vie

Ontem foi a "Noite dos Museus" na Europa inteira. Este evento consiste na abertura noturna e gratuita dos museus, possibilitando assim o acesso às obras de arte a um público que normalmente não visita os museus por falta de meios ou de tempo. Para os que já conhecem também é interessante, para rever as obras sob uma outra luz e um outro ambiente.


Aqui em Nancy, por exemplo, o Museu de Belas Artes colocou à disposição do público vários guias que explicavam ao visitante as obras com um fundo musical, O Museu Lorrain escolheu como tema os quadros relacionados com o claro-escuro e a noite e o Museu de L'Ecole de Nancy colocou um joguinho relacionado à descoberta de seu acervo à disposição dos visitantes.


Mas o que me encantou foi o pôster (foto acima) deste ano da Noite dos Museus. Encomendado especialmente para a ocasião, ele foi realizado por um artista francês chamado Hughes Reip e trata-se de uma montagem fotográfica de várias obras conhecidas :


A Negra Loira, de Brancusi
Roda de Bicicleta, de Marcel Duchamp
Bailarina olhando a sola do pé direito, de Edgard Degas
A Deusa Bastet, coleção do Museu do Louvre
Máscara de Ombro Nimba, coleção do Museu do Quai Branly

Com esta luz difusa atrás, não é realmente muito bonito?




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quarta-feira, 16 de maio de 2007

Vive la République!


Hoje a França tem um novo presidente.

Ele encarna a nova França, a diferença de geração e de estilo em relação a seu predecessor é flagrante. Filho de pais divorciados, ele mesmo divorciado, sua família foi recomposta com 2 filhos do primeiro casamento, um filho com a atual esposa e mais 2 filhas que a esposa ja possuía de um casamento anterior, uma família típica da sociedade atual. Além disto, aparentemente sua esposa não parece ter nada de uma mulher submissa : não foi votar no segundo turno e não estava ao lado do marido no momento da vitória, o que deu muito pano para manga para os jornais daqui.

Dizem que ele admira o “american way of life”, aliás nesta semana que seguiu a eleição era comum vê-lo vestido em jeans e agasalhos esportivos, ou freqüentando restaurantes de luxo e em férias a bordo de um iate (aqui ostentar riqueza é falta de ética, mas os franceses já o perdoaram), dizem mesmo que ele deseja ser o Kennedy francês. Não sei se é verdade, em todo caso sua posse teve sua dose de glamour, com a elegância da primeira dama vestida em Prada e de suas filhas, a quebra do protocolo de seu filho de 10 anos curioso para ver a Legião de Honra destinada a seu pai, além da imagem dos jovens correndo pelo gramado do palácio presidencial.

Quanto ao seu governo que começa, os franceses esperam muito dele. Disse que vai valorizar o trabalho, o que não seria mau pois aqui quanto mais se trabalha menos se ganha, pois os impostos são altíssimos. Para muitos, é mais interessante financeiramente viver da ajuda pública ou do seguro desemprego que trabalhar. Ele prometeu acabar com esta situação e não dar mais ajuda sem contrapartida. Vamos ver como ele vai conseguir colocar isto em prática sem adotar medidas impopulares.

Outro assunto no qual todos esperam suas decisões é a política de imigração. Apesar de ser filho de imigrante, ele disse que vai instaurar a imigração escolhida, cobrar um esforço de integração da parte dos estrangeiros e criar um ministério da identidade nacional. Esperemos que ele saiba dosar suas ações de modo a não piorar ainda mais a situação nos bairros difíceis, que já queimaram dezenas de carros em protesto contra sua eleição.

De qualquer modo, tudo que nos resta é desejar boa sorte ao novo presidente e torcer para que ele consiga fazer da França um país de pleno emprego, paz e justiça social.



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sábado, 12 de maio de 2007

A "Maison Bergeret"

Ontem voltamos ao bairro de Bonsecours, aqui em Nancy, ao Hospital Central, levar minha sogra para um exame de verificação. Ela foi internada neste hospital no domingo de Páscoa com um banal problema intestinal, teve que ficar 10 dias, pois lá dentro teve um edema pulmonar e ficou tão traumatizada pelo tratamento que perdeu o uso das pernas. Felizmente depois da volta para casa, melhorou e está recuperando pouco a pouco sua autonomia...e nós podemos voltar a falar das coisas boas (embora muitas vezes breves) que fazem este "Jardin Ephémère" e a vida.


Pois é, bem em frente ao hospital fica a "Maison Bergeret" (foto à esquerda), um monumento importante do movimento art nouveau de Nancy.


Bergeret foi um gráfico, que fez fortuna no final do século XIX e começo do século XX introduzindo os cartões postais na França. Ele construíu sua casa ao lado de sua gráfica, projetada pelo arquiteto Weissenburger. A arquitetura, no entanto, não é art nouveau, é uma mistura de estilos históricos, como o neogótico, com elementos lembrando a Idade Média. O que realmente é um verdadeiro manifesto art nouveau nesta casa é a decoração. Para realizá-la ele convidou alguns dos maiores expoentes do estilo, como Gruber e Janin (vitrais), Majorelle e Vallin (móveis e ferragens).


Um exemplo é o célebre vitral “Rosas e Gaivotas” (foto à esquerda). Nele são representadas gaivotas voando num fundo de céu azul sobre um mar agitado. Em primeiro plano vêem-se roseiras trepadeiras e arbustos que se confundem com o ferro utilizado para a estrutura. Para realizar este vitral, Gruber utilizou todas as técnicas de fabricação de vidro existentes na época.


O corrimão da escada (foto à direita), desenhado por Majorelle, realizado em ferro forjado e metal colorido também segue o estilo art nouveau : nele podem-se observar as formas sinuosas e a representação da natureza, como a planta chamada “monnaie du pape”.


Atualmente este palacete abriga a presidência da Universidade Henry Poincaré e para visitá-lo é preciso se inscrever em um dos circuitos turísticos da cidade.


Para ver cartões postais antigos fofíssimos de Bergeret, clique aqui.
Para uma visita virtual da Maison Bergeret, clique
aqui.


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segunda-feira, 7 de maio de 2007

Cristais contra o Aquecimento da Terra


© Institut Lavoisier (Photo available from the CNRS photo library)

No Dia Mundial da Terra assumi um compromisso com o Movimento "Faça a Sua Parte" em relação a uma ação individual colaborando no combate ao problema climático que enfrenta nosso planeta. Nesta ocasião, prometi divulgar projetos encontrados na imprensa científica internacional relativos a este assunto. Este post é minha primeira colaboração neste sentido.


As emissões de dióxido de carbono constituem a principal causa do aquecimento global. Até agora, os métodos existentes para a captura do CO2 eram caros e pouco eficazes. No entanto, recentemente, pesquisadores conseguiram desenvolver um material capaz de adsorver o CO2 com alta eficiência e transformá-lo em uma espécie química inócua para o meio ambiente.


Graças à nanotecnologia, que é o estudo dos materiais em uma escala extremamente pequena (nanômetro = milionésimo do milímetro), próxima da escala dos próprios átomos, partindo de matérias primas baratas, pesquisadores desenvolveram os cristais "que respiram" ou esponjas cristalinas. Isto significa que estes cristais, compostos de átomos metálicos e moléculas orgânicas (origem da sigla MOF Metal-Organic Framework), quando mergulhados em um solvente como a água, por exemplo, podem se dilatar e alcançar um tamanho até 300% superior ao original, e voltar à dimensão inicial sem perder suas propriedades. Devido ao tamanho microscópico de seus poros, eles apresentam uma enorme capacidade de adsorção, podendo capturar gases ou líquidos com grande eficiência, entre eles o CO2. Como estes álveolos podem funcionar também como minúsculos reatores, o CO2 capturado pode então sofrer um tratamento, sendo assim transformado em uma espécie inofensiva para o meio ambiente, e em seguida ser extraído do cristal.


E o gas carbônico não é a única espécie que pode ser capturada por estes cristais. O hidrogênio utilizado nas pilhas de combustível, uma das opções estudadas como fonte de energia renovável, também pode ser adsorvido por estas estruturas. Neste caso, os alvéolos funcionariam como minúsculos reservatórios deste elemento.


Os estudos sobre estas esponjas cristalinas são realizados por pesquisadores dos Estados Unidos e também aqui da França, onde um filtro de gas carbônico está sendo desenvolvido pela equipe do Institut Lavoisier. Diante do interesse estratégico deste material para o desenvolvimento sustentável, espero que o domínio desta tecnologia não se restrinja a alguns poucos países, mas se dissemine amplamente, pois o aquecimento do planeta é um problema global.

Artigos consultados :




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quinta-feira, 3 de maio de 2007

Um Outro Planeta Azul


Quando criança vi "Perdidos no Espaço", embarquei na Enterprise com Mister Spock da "Jornada nas Estrelas" e assisti fascinada o primeiro passo do homem na Lua.

Porisso, li com interesse a notícia de que um novo exoplaneta, quer dizer um planeta com condições favoráveis à vida humana, foi descoberto pelos cientistas europeus.

Batisado como 581c, ele está situado a 193 bilhões de quilômetros da Terra, o que em termos astronômicos quer dizer uma distância relativamente próxima, na órbita de uma estrela anã vermelha chamada Gliese581, da constelação de Libra, 50 vezes menos brilhante que o nosso Sol.

O novo planeta apresenta temperaturas de 1 a 40 °C, possibilidade da presença de água e uma gravidade 1,6 vezes superior à da Terra, com uma órbita de 13 dias em torno de Gliese581.

E agora, como e quando chegaremos lá? Isto é uma outra história, só sabemos que viajando à velocidade da luz levaríamos 20,5 anos para chegar. "Tudo à frente, direção Libra, senhor Sulu", diria o Capitão Kirk.

Para saber mais :

Astrônomos descobrem planeta habitável fora do Sistema Solar
Viagens Interestelares : ciência e ficção
Trek Brasilis



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terça-feira, 1 de maio de 2007

Os Sinos de Maio


Aqui na França, diz a tradição que no dia 1° de maio, Dia do Trabalho, devemos oferecer um raminho de muguet (também chamado sininho do campo ou lis dos vales) para desejar sorte e felicidade a quem queremos bem.

Vinda do Japão e presente na Europa desde a Idade Média, esta florzinha, delicada e perfumada, sempre simbolizou a primavera e foram os celtas os primeiros a atribuir a ela virtudes de talismã. Diz a história que o rei Charles IX tendo recebido em um dia 1° de maio um raminho de muguet para dar sorte, decidiu oferecer um às damas da corte todos os anos nesta data, criando assim a tradição. Hoje em dia, em qualquer esquina, encontram-se crianças, velhos, particulares em geral, vendendo os raminhos de muguet dia 1° de maio.

Logo, ofereço com muito carinho este raminho de muguet a todos os visitantes deste "Jardin Ephémère", agradecendo pela atenção, desejando muita sorte e esperando que voltem sempre.


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